Peruíbe: Lutas populares salvaram a Jureia

Reserva ecológica teve projeto aprovado pelo governo militar para abrigar duas usinas nucleares

Por: Eduardo Brandão  -  18/02/20  -  20:04
Abençoada pela natureza, Peruíbe completa hoje 61 anos de emancipação político-administrativa
Abençoada pela natureza, Peruíbe completa hoje 61 anos de emancipação político-administrativa   Foto: Divulgação / PMP

Um santuário ecológico sob ameaça em nome do progresso. O risco de devastação do maciço da Jureia, divisa entre Peruíbe e Iguape, marcou lutas populares a partir da segunda metade da década de 1970. A proteção à unidade de conservação – um dos últimos resquício de Mata Atlântica – uniu ambientalistas, comunidade científica e moradores para barrar a implantação de uma usina nuclear na reserva ambiental.


Até então alvo de disputas do setor imobiliário – que queria dividir a área ambiental em loteamentos –, a Jureia foi o ponto escolhido pelo Governo Federal, no período militar, para abrigar duas usinas nucleares. O plano começou a ser costurado em 1975, no ano seguinte a Peruíbe ser reconhecida como Estância Balneária. 


Em meio à crise do petróleo, o então presidente Ernesto Geisel (1907-96) assinou o Acordo Nuclear Brasil-Alemanha. O plano previa a construção de oito usinas com o enriquecimento de urânio. Duas dessas unidades seriam erguidas na Praia do Arpoador, na Jureia. 


Apesar da pressão popular, os planos avançaram. Em junho de 1980, o presidente João Figueiredo (1919-99) assinou o Decreto Federal 84.771, que desapropriava uma área de 236 quilômetros quadrados para o projeto. 


Na ocasião, a sociedade local já se mobilizava contra o planos. Contudo, os anos de milagre econômico se esvaziaram, levando o País a uma crise financeira. Sem recurso, o plano de montar usinas em Peruíbe foi esquecido. Já os equipamentos que seriam destinados ao Litoral Sul Paulista ficaram na Usina de Angra 3, no Rio de Janeiro. 


Nos últimos anos, a população voltou a se unir contra alguns empreendimentos. Em 2008, o empresário Eike Batista engavetou o projeto de um porto privado na cidade. Embora houvesse resistência da sociedade, a suspensão ocorreu por dificuldades de financiamento devido à crise mundial. 


Há quatro anos, nova comoção popular contra a construção de uma usina termelétrica em Peruíbe. Grupos ligados ao meio ambiente demonstraram insegurança na iniciativa. A proposta foi engavetada após a Cetesb negar a licença ambiental. 


Portal da Jureia 


Peruíbe é considerada portal para o Mosaico de Unidades de Conservação de Jureia-Itatins. Criada em 2015, por uma lei estadual, a área de 110 mil hectares guarda maior fragmento remanescente de Mata Atlântica do Litoral Sul.


A área é um dos últimos locais que abrigam praias arenosas, costões rochosos, manguezais, matas de restinga e florestas de baixada, de encosta e de altitude. Também é rica em diversificada fauna, com espécies endêmicas e migratórias. Estas últimas utilizam as áreas para descansar e se reproduzir.


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