Litoral Sul exposto ao crime: Levantamento mostra cidades mais violentas

Estudo do Instituto Sou da Paz aponta Itanhaém, Peruíbe, Mongaguá e Praia Grande entre as 10 cidades mais violentas do Estado

Por: Tatiane Calixto  -  22/08/20  -  00:46
Ao todo, 2,7 mil vagas são disponibilizadas para homens e mulheres
Ao todo, 2,7 mil vagas são disponibilizadas para homens e mulheres   Foto: Imagem ilustrativa/Estadão Conteúdo

Levantamento do Instituto Sou da Paz aponta que quatro municípios da Baixada Santista estão entre os 10 mais expostos a crimes violentos no Estado de São Paulo. Itanhaém está no topo da lista que tem ainda Mongaguá, Peruíbe e Praia Grande. 


>> Confira os dados do levantamento feito pelo Instituto Sou da Paz


O primeiro semestre deste ano foi atípico, impactado pela pandemia da Covid-19. Assim, com o isolamento das pessoas, principalmente entre abril e maio, a queda na violência era esperada. Porém, a redução não foi homogênea e precisa de uma análise cuidadosa. 


O índice de Exposição a Crimes Violentos (IECV) foi elaborado pelo Sou da Paz com base nos registros de roubos, estupros e homicídios em cidades com mais de 50 mil habitantes. No Estado, houve queda de 11% no indicativo nos primeiros seis meses. Na Baixada, o índice também caiu em todas as cidades, menos em Itanhaém, onde subiu de 7,68 para 7,94 


Dinâmica 


De acordo com o levantamento do Sou da Paz, os crimes patrimoniais tiveram queda. Destaque para a redução de 31% nos roubos de veículos, em comparação com o mesmo período do ano anterior. Porém, as cidades da Baixada na lista das mais expostas à violência mostram índices altos exatamente neste quesito. 


“Analisando as cidades da Baixada mais expostas a crimes violentos no Estado, observamos alguns padrões. Primeiro, o que faz com que elas estejam nessa posição de grande exposição são os crimes contra a dignidade sexual e contra o patrimônio. Os crimes contra a vida não pesaram tanto”, analisa Leonardo Carvalho, coordenador do Instituto Sou da Paz. 


Patrimônio 


No caso dos crimes contra o patrimônio, Carvalho explica que há uma relação estreita com a grande circulação de pessoas e áreas urbanas. “E o que observamos é que mesmo com isolamento social, em que a população foi orientada a ficar em casa, esse indicador ficou alto, o que reflete necessidade de se pensar políticas de prevenção, com ação coordenada entre estado e município”. 


Estupro 


O que também levou Itanhaém, Mongaguá, Peruíbe e Praia Grande para o incômodo lugar entre os 10 municípios mais expostos à violência foi um índice elevado de crimes contra a dignidade sexual. 


No Estado, os crimes de estupro apresentaram queda de 14%, durante o semestre. Mas, o dado pode maquiar uma situação perversa. 


“O número de registro deste crime, sobretudo do estupro de vulnerável, vinha crescendo no Estado. Agora, na pandemia, houve redução. A questão é que isso pode não ser reflexo do fato de que menos pessoas estão sendo vítimas, mas de que menos pessoas estão conseguindo fazer o registro da violência”, afirma Carvalho. 


Estudos mostram que casos de violência doméstica e estupro acontecem, principalmente, dentro de casa. Durante a pandemia, é possível que vítima e agressor estejam confinados no mesmo ambiente. 


“Nesse momento, a vulnerabilidade da vítima aumenta. Por isso, estamos preocupados com essa redução”. 


Na pandemia, realidades são distintas


Por outro lado, conforme o Instituto Sou da Paz, os homicídios subiram 4,5% em São Paulo, mesmo durante a quarentena. Segundo Luís Flávio Sapori, doutor em Sociologia e membro do Fórum de Brasileiro de Segurança Pública, as realidades são distintas no País neste momento.


“Com o isolamento e a menor circulação de pessoas é esperada uma diminuição de crimes. Assim, o crescimento de homicídios chama atenção. Em Minas Gerais e no Rio de Janeiro houve queda, por exemplo”, diz. Sapori lembra que, no Rio, houve a proibição de operações policiais em favelas, enquanto em São Paulo foi observada uma violência policial maior. 


“A letalidade da polícia neste momento de pandemia pode ser um ponto, assim como a própria atuação do tráfico de drogas neste período”. 


Respostas


Estado 


Em nota, a secretaria de Segurança Pública de São Paulo afirma desconhecer a metodologia aplicada na pesquisa e não compara municípios com características distintas. Entretanto, diz que o estudo apresentado pelo Instituto Sou da Paz reflete “a mesma tendência de queda dos indicadores criminais divulgados pela secretaria”. De acordo com a SSP, o trabalho das polícias na região tem atingindo resultados “expressivos” nos últimos anos e citou que, na comparação deste semestre com o mesmo período do ano passado, houve redução em todos os principais índices criminais da região. 


Itanhaém


A Prefeitura de Itanhaém diz que o crescimento populacional sazonal no verão, quando a Cidade chega a quadruplicar o número de habitantes, e aos fins de semana e feriados prolongados a duplicar, influencia no aumento dos índices de criminalidade, porém a metodologia aplicada pelo Instituto Sou da Paz considera apenas o número de habitantes fixos. “Dos dados apresentados, cinco das dez primeiras cidades listadas são litorâneas, o que comprova que o ranking não condiz com a realidade. Importante também destacar que nenhuma cidade do Litoral configurou entre as dez melhores”. A Administração afirma que exerce um papel de parceria com os órgãos de segurança pública com apoio da Guarda Civil Municipal (CGM), que é armada. Destaca o programa ‘Cidade Segura’, que conta com câmeras de monitoramento espalhadas pelo município, além de estar melhorando a rede de iluminação pública nos bairros. 


Mongaguá 


A Prefeitura de Mongaguá garante que, para combater esses índices, vêm realizando uma série de investimentos na Guarda Civil Municipal (GCM). No início deste ano, criou o primeiro destacamento da Ronda Ostensiva Municipal (Romu) na Cidade. A Central de Monitoramento, no Centro, também contou com melhorias e o sistema de câmeras foi ampliado com mais de 30 equipamentos. “Na prática, o resultado já pode ser notado. O município apresentou uma redução no indicador o primeiro semestre de 2020 em comparação com o mesmo período de 2019”, diz a Administração em nota. 


Peruíbe


A prefeitura de Peruíbe observa que o ranking mostra um fenômeno não apenas municipal, mas regional, já que em primeiro e segundo lugares, estão as cidades vizinhas, Itanhaém e Mongaguá. Além disso, também destaca a não consideração da população flutuante nestes locais. "O fato de sermos as quatro menores cidades da Baixada faz com que consequentemente sejamos as mais impactadas com a diferença demográfica nesse período”. Para enfrentar a situação, a prefeitura garante que investe em iluminação pública e criou o programa Mais Iluminação, com pontos de luz em locais que não tinham o serviço. Cita ainda investimento em monitoramento com câmeras com reconhecimento ótico de caracteres. Além de investimentos em programas contra a violência doméstica e convênio com a Secretaria de Segurança Pública do Estado para a implantação da Atividade Delegada, aguardando no momento, a assinatura da SSP. 


Praia Grande 


A Prefeitura, por meio da Secretaria de Assuntos de Segurança Pública (Seasp), informa que os dados divulgados pelo estudo do Instituto Sou da Paz não refletem fielmente a realidade da cidade, ao levar em consideração apenas a população fixa. Este ano, a prefeitura aponta que durante a quarentena, muitas pessoas que possuem imóvel na Cidade optaram por cumprir o isolamento social em suas residências de veraneio, fazendo com que a população flutuante se mantivesse alta em finais de semana e até mesmo durante a semana. “Independentemente disso, a Administração adota diversas ações para reduzir os índices criminais, entre elas, investimentos em tecnologia na área de segurança, como aquisição de câmeras softwares. Atualmente, Praia Grande conta com mais de 2.700 câmeras instaladas em pontos estratégicos com tecnologia capaz de identificar placas de veículos e até rostos”. A Administração também afirma ter viabilizado o aumento do efetivo da Polícia Militar por meio da construção do novo Batalhão da PM e da criação da 3ª Companhia de Polícia Militar, que será inaugurada nas próximas semanas, distribuindo melhor o efetivo na Cidade. 


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