Instituições se esforçam para manter assistência durante a pandemia

Durante a pandemia, número de pessoas atendidas chegou a triplicar e a forma de ajuda precisou de adaptações

Por: Rosana Rife & Da Redação &  -  13/04/21  -  00:55
  Foto: Matheus Tagé/AT

O número de pessoas em situação de rua atendidas por algumas instituições da região chegou a triplicar após o início da pandemia de covid-19. Mas oferecer um prato de comida, uma máscara ou mesmo roupas tem sido um desafio devido aos cuidados adotados para evitar o contágio pelo coronavírus, às medidas de restrições e à dificuldade para conseguir ajuda suficiente.


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No Centro Espírita Ismênia de Jesus, em Santos, as doações foram mais fartas em 2020. Este ano, elas têm chegado, mas num ritmo menor. Já a procura por alimentação aumentou cerca de 30%.


A instituição teve de remodelar a forma de atendimento a partir março do ano passado. Desde então, as refeições não são feitas no local. Mas o almoço está garantido por meio da distribuição de marmitas feitas com a ajuda de funcionários e voluntários. Dos tradicionais 120 pratos servidos, passaram a ser distribuídos 160, em média.


“Houve um aumento bastante significativo de demanda porque a necessidade é muito grande. Não fechamos nenhum dia desde 1941. Mas mudou completamente a forma como trabalhamos”, afirmou o presidente do centro espírita, Ismael Leal Leite.


A procura em casas de acolhimentos ligadas à Igreja Católica na região também tiveram aumento tanto por quem busca abrigo quando por pessoas que procuram por refeição, conta o vigário episcopal para Dimensão Social da Evangelização, Valdeci João dos Santos. “Temos quatro casas de acolhimento e a procura por refeição praticamente triplicou na pandemia”.


As prefeituras também ampliaram o atendimento a esse público, oferecendo mais serviços e distribuindo kits de higiene entre as medidas adotadas (confira no quadro).


Na pele


O início da pandemia da covid-19 virou a vida do pedreiro José Aragão de Santana, de 52 anos, de cabeça para baixo. Não foi somente o medo da doença que passou a assombrá-lo. Ele perdeu emprego e, consequentemente a casa onde morava, porque não tinha mais dinheiro para o aluguel. Daí, morar nas ruas foi o passo seguinte.


“Trabalhava na manutenção da casa de uns idosos. Com a pandemia, eles me dispensaram para ficar isolados. Disseram que me chamariam de volta quando tudo passasse. Mas a situação só piora”, contou.


Apesar dos 30 anos de profissão e muita experiência, até os bicos sumiram neste última ano. O jeito, então, foi passar a vender balas pelas ruas de Santos e viver um dia após o outro. “Foi a opção que tive. Estava dormindo na calçada do Mercado Municipal. Um rapaz ficou com pena e está me deixando ficar em uma obra abandonada. Tomo café da manhã, almoço e janto no Bom Prato”.


Batalhador e corajoso, conforme relata, José luta contra os momentos de tristeza e desânimo. “A gente tem que se cuidar. Uso máscara, tenho álcool em gel. Porque na rua é difícil e preciso vender minhas balas. Não bebo e não uso drogas. O que ganho estou juntando para poder alugar um quartinho”.


Mas, o lockdown acabou afastando um pouco mais o desejo do pedreiro. Com menos movimento nas vias e ruas desertas aos finais de semana, as vendas diminuem também.


“Sonho em voltar a trabalhar como pedreiro, o que me rendia cerca de R$ 150,00 por dia. Atualmente, no melhor dia, consigo R$ 60,00 e enfrento muita humilhação. Tem gente que não entende que é o meu ganha-pão e é honesto”.


Doações podem ser feitas ao Centro Espírita Ismênia de Jesus (Rua Campos Melo, 312, Encruzilhada, Santos). Também podem ser levadas a qualquer igreja. Quem quiser contratar o pedreiro José Aragão pode ligar para o 997328194.


Veja os serviços oferecidos pelas prefeituras da região


Bertioga
Realiza abordagem social e atende pessoas em situação derua no Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas), que fica na Praça Vicente Molinari, 17, Vila Itapanhaú. Oferece serviço de acolhimento na Casa de Passagem, onde há alojamento, alimentação e higiene para quem não quer dormir no local.Na pandemia, ampliou o númerode vagas para pernoite de 42 para 72 e distribui kits de higiene.

Cubatão


O Município registrou aumento de 30% na procura por serviços, especialmente com o fim do auxílio emergencial. As pessoas
em situação de rua são atendidas pelo Centro Pop.Elas são acolhidas, cadastradas e avaliadas para posterior encaminhamento aos serviços necessários, como saúde, assistência jurídica, programas sociais etc. Na pandemia, elas podem fazer todas as refeições gratuitamente no Bom Prato.
O município tem ainda casas de passagem, onde elas podem ficar até retomar vínculos familiares
e sua autonomia. Ao chegar lá, elas precisam passar por um período de quatorze dias em isolamento para poderem conviver com funcionários e demais usuários.

Guarujá


Registrou aumento de 20%no atendimento à população em
situação de rua. O trabalho de contato e abordagem foi ampliado e houve retomada da distribuição de kits de higiene. O município oferece ainda
encaminhamento para o Centro
de Referência Especializado para População em Situação de Rua
(Centro Pop), na Rua Orlando Silva, 381, Jardim Boa Esperança.Também é disponibilizada opção de retorno ao município de origem, caso haja interesse.

Itanhaém


Realiza trabalho de abordagem com assistentes sociais e psicólogos nas ruas da cidade. Também oferece 40 refeições por dia, que incluem café da manhã e almoço.

Mongaguá


Realiza abordagem e conscientização referente à covid-19. Também faz entregakits de higiene.No Creas e nas abordagens de rua, são feitos encaminhamentos necessários, o que inclui recâmbio, acesso a documentos, contatos com familiares e tentativa de reintegração à sociedade.

Peruíbe


Passará a fornecer almoço aos moradores de rua. Também está prevista a compra de itens como calçados e cobertores, além de eferecer serviço de recâmbio.


Praia Grande
Faz abordagem social e conta
com Centro Pop e Casa de Estar Ferdiano Alves de Oliveira para assistência e acolhimento. Há ainda o Abrigo Solidário Eliane Malzoni, em parceria com igreja católica, a unidade oferece acolhimento noturno, alimentação e higiene pessoal. Quem necessita também éencaminhado para uma rede de serviços oferecidos pelo Município,
que inclui atendimento médico e retirada de documentos.

Santos


O Serviço Especializado em Abordagem Social oferece diariamente orientações sobre prevenção à covid-19, além de encaminhamento a serviços e equipamentos públicos. Pode ser acionada pelo 153(ligação gratuita e 24h). O Centro Pop (Rua Amador Bueno, 446, Centro) funciona de segunda a sexta-feira, das 8 às 17h e, agora, também aos sábados, domingos e feriados, das 9 às 13h. Oferece atendimento multidisciplinar, atividades, higienização, lanche e encaminhamento para serviços e recâmbio quando for o caso.


A Prefeitura também abriu dois abrigos emergenciais. Somadas a de outros quatro abrigos, o total de vagas chega a 286. São eles Seacolhe-AIF, Albergue Noturno, Casa Êxodo, Abrigo Emergencial, Seabrigo-AIF e Casa das Anas. O encaminhamento é feito via Centro Pop ou por equipes de abordagem social.


Há distribuição de kits dehigiene feita por equipe do Consultório na Rua. Os profissionais informam sobre a doença, verificam se há sintomas e, se houver necessidade, o Samu é acionado. Doações podem ser feitas pelo WhatsApp(13) 99158-7115.


Também foi ampliado o atendimento no Bom Prato, que passou a oferecer jantar, além de permanecer aberto aos finais de semana e feriados. Há gratuidade para população em situação de rua. É necessário ter o cartão-alimentação, que é entregue no Centro Pop ou durante abordagem das equipes nas ruas. As pessoas são cadastradas para receber o benefício.

São Vicente


Registrou aumento depessoas em situação de rua, principalmente no último trimestre,de 40%. Muitos casos ocorreram devido a perda de emprego ou
fonte de renda. Ampliou a oferta de vagas em acolhimentos institucionais e remodelou equipe de abordagem social para atender um mais pontos ao longo da Cidade de forma simultânea.


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