INSS deixa 20 mil sem resposta no Estado de São Paulo

Número se refere a pedidos de benefício em tramitação; na Baixada, 907 solicitações aguardam, em média, há 103 dias

Por: Rosana Rife & Da Redação &  -  17/05/20  -  16:47
Maior tempo de espera, na Baixada Santista, é por pedidos de aposentadoria, que supera quatro meses
Maior tempo de espera, na Baixada Santista, é por pedidos de aposentadoria, que supera quatro meses   Foto: Alexsander Ferraz/ AT

Quase 20 mil pedidos de benefício estão parados nas filas virtuais no Estado de São Paulo aguardando análise do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). O tempo médio de espera é de 96 dias, mais que o dobro do que a lei prevê.


De acordo com a legislação, o segurado deveria ter uma resposta da autarquia em, no máximo, 45 dias. Na Baixada Santista, são 907 solicitações que esperam por um desfecho há, pelo menos, 103 dias – um período superior à média estadual. 


No Estado, quem precisa de benefício assistencial, como o Benefício de Prestação Continuada (BPC), leva 164 dias – mais de cinco meses para consegui-lo. É a solicitação mais demorada.


O BPC equivale a um salário mínimo (R$ 1.045,00) e é destinado a idosos pobres ou pessoas com deficiência, desde que tenham renda inferior a um quarto de salário mínimo, ou seja, R$ 261,25.


“Desde o governo anterior (do então presidente Michel Temer), o acesso ao BPC vêm sendo reduzido, com concessões ocorrendo de forma mais burocrática, ou seja, alterando uma política de ampliação do número de beneficiados, que ocorrida desde 1996. É uma crueldade com os mais pobres”, analisa o advogado Cleiton Leal Dias Júnior.


Aposentadoria: Pior


Na região, quem mais sofre com a fila virtual são os trabalhadores que buscam aposentadorias. Neste caso, são 128 dias para saber se terão ou não direito à deixar a ativa. São, pelo menos, 215 solicitações emperradas no INSS. 


“Tem muita gente perdendo emprego e pedindo aposentadoria para ter uma renda, principalmente nesta fase de pandemia. Esse tempo (de espera) é um absurdo. Nem em situações mais simples ele (o INSS) tem sido rápido. Tenho um pedido de pensão com documentação toda completa e que não tem resposta. A pessoa ficou viúva e está sem renda”, relata a advogada Cláudia Cavallini.


Ela conta que tem buscado o Judiciário para forçar o INSS a acelerar os atendimentos. “Tenho entrado com mandado de segurança, em quase todos os pedidos de aposentadorias, para que o INSS preste informações sobre a demora. Daí, você acaba entupindo ainda mais o Judiciário. Mas, se não fizer isso, não tem saída”, explica a advogada. 


Reforço


O INSS não tem ideia de quanto tempo levará para pôr a casa em ordem. A autarquia receberá reforços para que os trabalhos sejam regularizados. Serão 8.230 vagas distribuídas pelo Brasil, que poderão ser preenchidas por aposentados da União e militares inativos. Não foi informado quantos serão destinados ao Estado ou para a Gerência Santos.


As inscrições para os interessados terminaram ontem, e não há data definida para a convocação dos profissionais.


A autarquia informa ainda que, no caso do BPC, o Governo publicou portaria para antecipar o pagamento emergencial de R$ 600,00, por três meses, a pessoas com deficiência. A concessão do auxílio será encerrada assim que o pedido do benefício for analisado.


Segurados se surpreendem com agências fechadas


Quem depende de perícia médica para conseguir auxílio-doença ou solicitar a prorrogação do benefício ainda tem dúvida sobre o atendimento. O problema é que o INSS não tem enviado comunicado a essas pessoas sobre o fechamento das agências durante a pandemia de coronavírus.


É o caso da operadora comercial Dianne Amaro, de 29 anos. Ela tinha perícia marcada para o último dia 8 na unidade do INSS em Santos, mas deu de cara com a porta. Saiu de Praia Grande às 8h30 e tomou dois ônibus para chegar ao destino, mesmo durante o período de isolamento social, em busca da prorrogação do auxílio-doença, sem sucesso.


“É um descaso com a gente. Não recebi nenhuma mensagem no celular ou no aplicativo de que a perícia estava suspensa”, conta.


Segundo ela, o INSS não dá informações suficientes aos segurados. “Tive crises de ansiedade, por isso estou afastada. Então, chegar até aqui foi muito difícil. Peguei ônibus lotado, em um momento que a recomendação é para ficar em casa. Estou colocando minha vida em risco para encontrar a agência fechada.”


A massoterapeuta Eniceia de Morais, de 55 anos, passou pelo mesmo problema. Afastada desde novembro devido a uma cirurgia na mão, ela tenta prorrogar o auxílio-doença e precisa da perícia médica.


“Está lá no aplicativo que você tem de ir presencialmente. Não tem nada dizendo que as agências estão fechadas ou, pelo menos, um telefone para a gente ligar. Assim, ninguém sai de casa.” 


Resposta


As agências ficarão fechadas, pelo menos, até a próxima sexta-feira, por causa do decreto emergencial de saúde, de nível nacional, decorrente da pandemia.


O instituto informou, ainda, que tentou contato direto com os segurados para informá-los da mudança, “o que, no entanto, não foi possível para todos os agendamentos existentes”.


Menciona, porém, que enviou notificações pelo Meu INSS, providenciou cartazes para afixação nas unidades e notas via imprensa.


O instituto informa que vem fazendo a antecipação de um salário mínimo (R$ 1.045,00) para segurados que têm direito ao auxílio-doença. O pagamento terá duração máxima de três meses, contados a partir da data do início do benefício. A concessão se dará sem a realização de perícia médica, enquanto perdurar o regime de plantão reduzido de atendimento nas agências até a realização da perícia presencial. 


Para os pedidos iniciais de auxílio-doença, o segurado deve anexar atestado médico junto ao requerimento, mediante declaração de responsabilidade pelo documento apresentado, por meio do portal ou aplicativo Meu INSS. Todos os atestados serão submetidos à análise preliminar pela Subsecretaria da Perícia Médica Federal da Secretaria de Previdência, e pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).


Em caso de dúvidas, é possível utilizar o telefone 135, o site e o aplicativo para celular Meu INSS para obter informações ou reagendar a perícia.


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