Ilha dos Arvoredos: um paraíso sustentável

Local, pouco conhecido pelo turista e morador da região, fica em Guarujá e é um laboratório de soluções sustentáveis e preservação de recursos naturais. Seu criador já morreu, mas o legado que deixou está mais vivo do que nunca

Por: Arminda Augusto & Editora-chefe &  -  07/02/21  -  15:20
A Ilha dos Arvoredos é um laboratório de sustentabilidade a céu aberto
A Ilha dos Arvoredos é um laboratório de sustentabilidade a céu aberto   Foto: Alexsander Ferraz/AT

1.600 metros. Essa é a distância que separa o continente da ilha que se avista a partir da Praia de Pernambuco, em Guarujá. Quem se banha no mar ou toma sol na areia consegue enxergar com perfeição aquele pedaço de rocha logo à frente, com farta vegetação em cima, parecendo um misterioso gigante adormecido no meio do oceano.


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O pedaço de rocha tem nome: Ilha dos Arvoredos. E também tem história, cultura e pioneirismo. Uma história que começa na década de 50, mas ainda hoje é pouco conhecida até mesmo pelos que moram na região.


A Ilha dos Arvoredos é um laboratório de sustentabilidade a céu aberto, e foi concebida quando sequer o conceito do que é sustentável era conhecido.


Tudo começou nas décadas de 50 e 60, quando o engenheiro mecânico Fernando Eduardo Lee, nascido em São Paulo, conseguiu da Marinha a concessão da ilha para desenvolver ali projetos ambientais. Sobre uma laje de pedra de 36 mil metros quadrados, com quase nenhuma vegetação, ele foi criando, ao longo dos anos, pesquisas em energias alternativas, soluções arquitetônicas para torná-la autossustentável em água potável, energia e alimento.


Levando para a ilha todo tipo de experimento que pudesse provar que era possível preservar recursos ambientais a partir de soluções de engenharia, química, física e arquitetura, Fernando Lee montou um sistema de captação de água da chuva que ainda hoje funciona e consegue armazenar até 2 milhões de litros de água.


Além disso, implantou placas para geração de energia solar e imensas hélices para energia eólica (a partir do vento). Criou, ainda, uma piscina de água salgada para criação de peixes e camarão, um ecossistema perfeito que garante alimento de forma permanente.


Com sua morte em agosto de 1994, parte de seus experimentos ficou obsoleto, pois a fundação que criou (Fundação Fernando Lee) não dava conta de custear todas as despesas. Essa história está prestes a mudar de rumo (veja matéria ao lado).


Aventura


Visitar a Ilha dos Arvoredos é descobrir um pedaço da mentalidade e inventividade de Fernando Lee a cada passo, começando pelo acesso à ilha.


Não há trapiche ou píer para desembarcar. Como as ondas batem forte contra as rochas, não havia píer que resistisse. Foi então que Fernando Lee resolveu o problema construindo uma espécie de gaiola, que busca o visitante na lancha.
A gaiola é içada por um cabo preso a um guindaste e leva o visitante direto para a ilha. Como tudo na ilha é uma mistura de ciência e arte, o guindaste é preso a uma grande estrutura de concreto em forma de Fênix. São 90 toneladas de concreto, pintado de branco, parecendo mesmo uma Fênix de asas abertas.


Detalhes


O passeio pela ilha descortina um leque de soluções sustentáveis pensadas por Fernando Lee nos mínimos detalhes.
Para armazenar a água da chuva, ele projetou um sistema de coleta que se espalha pelo gramado e drena para o reservatório. Como tinha conhecimento de Botânica, Biologia e um relacionamento com pesquisadores do mundo todo, Lee levou para a ilha mudas de grama da Coreia do Sul, resistente à salinização.


Na casa de pedra que funcionava como seu QG, nenhuma gota de chuva era desperdiçada, porque o sistema de calhas funcionava e se interligava com os demais. Ainda hoje o reservatório funciona e abastece toda a ilha.


As placas para captação de energia solar foram o primeiro sistema do tipo na América Latina.


Beleza e contemplação


Para Fernando Lee, a ilha era também lugar de contemplação e beleza. Em vários espaços entre as rochas, ele montou recantos de contemplação da natureza, favorecida pelo vento constante e toda sorte de pássaros, flores e plantas. Estar ali é sentir-se em um outro mundo.


Projeto quer fazer da ilha lugar de educação ambiental


A Ilha dos Arvoredos não está aberta ao público. Vinculada à Fundação Fernando Lee, por enquanto só pesquisadores têm desembarcado ali para novos experimentos. Mas essa história começa a mudar de rumo a partir do projeto Mundo Sustentável, idealizado pelo engenheiro Bruno Tacon, presidente do Instituto Nova Maré.


Em parceria técnica, acadêmica e científica com a Unaerp-Guarujá, a proposta é abrir o espaço gradativamente à visitação pública.


O projeto é baseado na tese de doutorado da educadora Priscilla Bonini Ribeiro, vice-reitora da universidade e pesquisadora na área de tecnologia ambiental. “Fernando Lee conseguiu provar que é possível colocar em prática o conhecimento científico. A Ilha é autosustentável a partir da utilização da Ciência. Mostrar isso em um projeto de educação ambiental é a melhor forma de garantir um mundo sustentável para as próximas gerações”, diz Priscilla.


Bruno Tacon e a equipe do Instituto Nova Maré estão desenvolvendo uma plataforma digital onde será possível agendar a visita, em pequenos grupos, e com a verba arrecadada ir abrindo os demais projetos. Interessados podem entrar em contato pelo @ilhadosarvoredosoficial ou contato@inmar.org.br


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