Homossexuais poderão doar sangue após decisão do Supremo Tribunal Federal

Lideranças ligadas à comunidade LGBTI comemoram a decisão histórica

Por: Lucas Krempel  -  11/05/20  -  22:57
Em períodos como Natal e Ano-Novo, os estoques costumam cair nos bancos de sangue da região
Em períodos como Natal e Ano-Novo, os estoques costumam cair nos bancos de sangue da região   Foto: Carlos Nogueira/ AT

Lideranças ligadas à comunidade LGBTI (lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e intersexo) na Baixada Santista comemoraram decisão histórica, da última sexta-feira, do Supremo Tribunal Federal (STF), que derrubou a restrição a homossexuais na doação de sangue. Para sete dos 11 ministros do STF, a proibição foi considerada inconstitucional. 


A coordenadora executiva da Comissão Municipal de Diversidade Sexual de Santos, Taiane Miyake, concorda e diz que o “ato de salvar vidas não pode ser reduzido pelo preconceito e ignorância”.


“Foi uma decisão histórica em tempos sombrios que estamos vivendo. Esse julgamento iniciou-se em 2017 e findou-se ontem (sexta), derrubando discriminação na doação de sangue a homens gays e bissexuais, bem como às travestis e às mulheres transexuais”. 


Taiane ressalta que a proibição não atingia mulheres lésbicas. Ainda, de acordo com ela, o ministro Edson Fachin foi assertivo quando disse que a “orientação sexual não contamina ninguém, o preconceito sim”.


“Certa vez o chefe da Nação (Jair Bolsonaro) declarou que o sangue de homossexuais não era confiável, que ninguém iria querer o sangue dessas pessoas”. 


Vitória


Para a advogada Patrícia Gorisch, a vitória é muito significativa. “Os homens gays terão direito à essa solidariedade de ajudar o próximo. Faz muito bem para a gente. Quando a gente doa, recebe um cartãozinho dos hemonúcleos que a gente salvou de quatro a seis vidas. E esses direitos eram ceifados pelo simples fato de serem homossexuais”.


Conforme a advogada, a testagem do sangue tem que ser feita para todos, sem preconceito prévio. “Os homossexuais não são grupo de risco. O grupo de risco está ligado à promiscuidade, e a promiscuidade é do ser humano. Tem pessoas que são, outras não. Não dá para generalizar”.


Taiane espera que o preconceito acabe com essa decisão, mesmo sabendo que não será fácil.


“Será que depois da coleta, essa bolsa não será descartada no lixo por ser de uma pessoa homossexual ou transexual? Num país onde se tem o maior número de assassinatos de travestis e transexuais, tudo pode se esperar”, alertou. 


Para Taiane, a decisão pode ajudar em outras conquistas dos direitos LGBT no Brasil. “O STF mais uma vez se provou institucionalmente a favor das minorias sociais e dos grupos de maior vulnerabilidade e das minorias sexuais e de gênero”.


Patrícia segue na mesma linha. “Historicamente a questão do sangue é muito significativa. Então a partir do momento que a sociedade, através dessa decisão, vai começar a receber sangue das pessoas LGBTI, testado como qualquer outro sangue recebido, você acaba com preconceitos. É uma forma de garantir mais uma conquista, dignidade e respeito. Os direitos que faltam são consequências disso”.


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