Muita emoção no adeus a capoeirista que morreu soterrado durante resgate em Guarujá

Rafael de Oliveira Rodrigues auxiliava os bombeiros quando desapareceu no Morro do Macaco Molhado; ele foi 42ª vítima fatal

Por: Júnior Batista & Da Redação &  -  09/03/20  -  10:31
Atualizado em 09/03/20 - 10:32
O velório foi marcado por muita comoção e reuniu familiares, amigos, alunos e ex-alunos de Rafael
O velório foi marcado por muita comoção e reuniu familiares, amigos, alunos e ex-alunos de Rafael   Foto: Carlos Nogueira/AT

O mestre capoeirista Rafael de Oliveira Rodrigues, de 36 anos, foi enterrado neste domingo (8), no Cemitério Vila Júlia, em Guarujá. Ele é a 42ª vítima fatal dos deslizamentos ocorridos na Baixada. O corpo da vítima foi encontrado pelos Bombeiros por volta das 8h50 do domingo (8), no Morro do Macaco Molhado. Ele deixa a mulher e um filho de 16 anos. 


O velório foi marcado por muita comoção e reuniu dezenas de familiares, amigos, alunos e ex-alunos do capoeirista, que era considerado um líder dentro da comunidade do Município. 


O Capitão do Corpo de Bombeiros, Marcos Palumbo, ressaltou que graças a ele, no dia da tragédia, mais de 40 pessoas foram salvas. “Ele, junto com os cabos Moraes e Batalha, retiraram vítimas de suas residências ainda durante a chuva (após o primeiro desabamento), no Macaco Molhado. No entanto, houve esse segundo desabamento, que acabou vitimando os dois”, disse Palumbo.


Rafael Rodrigues era fundador da Associação Cultural Afroketu que, no próximo dia 4 de junho, completa 20 anos de existência. A instituição acolhe cerca de 150 crianças e adolescentes dentro da capoeira.


Mestre Rafael foi um dos grandes idealizadores da Associação Afro Ketu
Mestre Rafael foi um dos grandes idealizadores da Associação Afro Ketu   Foto: Arquivo pessoal

Segundo amigos e familiares, Rafael era como se fosse um pai para todas essas crianças. “Ele retirou muitos desses adolescentes de um caminho que poderia ser do crime. Meus dois netos foram dois deles, porque graças a Rafael hoje estão livres desse caminho”, contou a amiga Maria Conceição Pereira Santos. Ela conhecia Rafael desde que ele tinha 14 anos. Contou que sua personalidade sempre foi de uma pessoa inconformada com coisas erradas. “Desde essa idade ele já buscava caminhos corretos. Ele lutava por cada criança daquela instituição. Levava para lá, acompanhava, falava para estudarem, respeitarem os pais. Ele foi um herói não só daquelas pessoas, de uma geração inteira”, disse Maria.


Antes de efetivamente fundar a associação Afroketu, Rafael lutou pelos direitos dos menos favorecidos, destacando-se, inclusive, no meio político. Atualmente, era assessor de Políticas Públicas para a Juventude na Secretaria de Relação Sociais (Seres) de Guarujá. 


Também era membro do movimento da juventude negra brasileira, além de participar ativamente de conselhos dos direitos das crianças e dos adolescentes. “Ele levou essa mensagem para Brasília, São Paulo. É uma perda irreparável para a comunidade”, emendou Maria Conceição. 


Ele cursava o último ano de Direito na Faculdade do Guarujá (Uniesp). A universidade postou em sua conta nas redes sociais uma homenagem ao capoeirista. 


No velório, alunos e ex-alunos tocaram berimbau e cantaram. A amiga Roberta Costa disse que é o jeito que ele queria ser lembrado. “Rafael brincava que queria que tocassem no seu velório. Que não queria ninguém triste. Esse desejo foi atendido”. 


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