Morador de Guarujá não consegue tratar câncer há 3 meses: 'Desesperador'

Com tumor de nasofaringe, homem de 45 anos tem dores absurdas enquanto vê o tumor crescer, sem perspectiva

Por: Maurício Martins  -  24/02/20  -  14:01
Sidney e a mulher, Simone, mostram papéis da Defensoria Pública: 'Não sei mais a quem recorrer'
Sidney e a mulher, Simone, mostram papéis da Defensoria Pública: 'Não sei mais a quem recorrer'   Foto: Divulgação

Desespero. É a palavra que resume os últimos três meses da vida de Sidney Santos da Cruz, de 45 anos, e de toda a família dele. Morador do Pae Cará, em Vicente de Carvalho, Guarujá, ele tem câncer de rinofaringe (passagem do nariz para a boca). Desde de novembro tenta o tratamento, mas o Poder Público, além de não iniciar o processo, ainda empurra a responsabilidade. Com muitas dores, ele toma analgésicos, enquanto vê o tumor crescer, sem perspectiva.


Ex-promotor de vendas, Sidney parou de trabalhar por causa da doença. A mulher, Simone Guimarães da Cruz, de 36 anos, ficou desempregada para cuidar do marido, com quem está há 18 anos. Mas não há muito o que fazer sem o tratamento adequado. Chorando, Simone diz que ela e os filhos, um menino de 10 anos e uma adolescente de 17, não aguentam mais ver Sidney sofrendo.


A Prefeitura de Guarujá afirma que fez formalmente a solicitação de vaga para o paciente ao Governo do Estado, via Central de Regulação de Ofertas e Serviços de Saúde (Cross), porque a cidade não conta com esse tipo de tratamento. 


A Secretaria Estadual da Saúde nega, afirma que não há pedido pendente e ainda empurra a responsabilidade para uma segunda prefeitura, a de Santos. Esta última afirma que o paciente deve ser tratado em Guarujá.


Sem conseguir o acompanhamento adequado, paciente toma analgégicos em prontos-socorros
Sem conseguir o acompanhamento adequado, paciente toma analgégicos em prontos-socorros

ATribuna.com.br teve acesso, porém, a pedidos de encaminhamento do paciente feitos por Guarujá ao estado por cinco vezes: em novembro, dezembro, janeiro e fevereiro. Os documentos contrariam a afirmação da Secretaria Estadual da Saúde e demonstram que não houve o correto andamento do caso por parte do estado.


A família do paciente procurou a Defensoria Pública do Estado, que pediu esclarecimentos urgentes ao estado. Mas não adiantou. “De um mês para cá, o estado de saúde dele piorou, está muito debilitado. A doença veio de uma forma alarmante. Já não está comendo direito, não está falando, a língua dele inchou, teve sangramento nasal. Cada dia que passa é perdido”, conta, chorando, a mulher, Simone.


Ela está desesperada. “Não sei mais a quem recorrer. A saúde não espera feriado, carnaval, nada. Precisa ser uma prioridade. Está muito difícil”.


Histórico 


Sidney descobriu o tumor em 2013 e foi encaminhado para São Paulo para cirurgia. Na Capital, os médicos avaliaram que a operação traria risco de vida por causa do local do câncer e decidiram que ele deveria fazer tratamento clínico. 


O paciente ficou, então, sob responsabilidade da oncologia clínica do Hospital Santo Amaro, em Guarujá. Fez quimioterapia e radioterapia. Com a melhora, recebeu alta com pedido de acompanhamento a cada três meses para verificar o crescimento do tumor.


Vinha apresentando quadro estável até novembro de 2019, quando piorou. Tentou retornar na Oncologia do Santo Amaro, mas foi informado que não existia mais a especialidade e que Guarujá pediria ao governo estadual encaminhamento a um hospital referência na região. Não conseguiu mais atendimento.


Respostas do Poder Público 


A Secretaria Estadual da Saúde afirma que não há pedido pendente para Sidney na Central de Regulação de Ofertas e Serviços de Saúde. “O agendamento em serviço de referência para o paciente está sob os cuidados do município de Santos”.


A Prefeitura de Guarujá informa que fez “todos os esforços no sentido de prestar o atendimento ao paciente”. Afirma que a referência na especialidade que o paciente necessita é a Santa Casa de Santos, sendo que as vagas são reguladas pela Cross. 


“A Secretaria de Saúde de Guarujá solicitou, por escrito e por telefone, ao estado [via Cross e diretamente à Diretoria Regional de Saúde], o encaminhamento desse paciente, tendo em vista que ele já é monitorado pela rede municipal há algum tempo”. 


A Secretaria de Saúde de Santos informa que o estado solicitou ao município a avaliação do paciente na área de cirurgia de cabeça e pescoço. “O paciente passou no dia 21 de janeiro deste ano por consulta com especialista no Ambulatório de Especialidades [Ambesp] de Santos, o qual avaliou que não há necessidade de intervenção cirúrgica e que ele deve dar continuidade ao tratamento oncológico no hospital Santo Amaro, na sua cidade de origem”.


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