Hospital de Campanha de Guarujá é inaugurado com oração e muita emoção

Profissionais da Saúde estiveram na unidade, que começa a funcionar neste sábado (9), e receberam bênçãos de padre e pastores

Por: Nathália de Alcantara  -  09/05/20  -  13:31
Profissionais receberam bênçãos de padre e pastores
Profissionais receberam bênçãos de padre e pastores   Foto: Matheus Tagé/AT

Não deu para segurar a emoção durante a inauguração do Hospital de Campanha de Guarujá, no hangar da Base Aérea de Santos, que fica no Distrito de Vicente de Carvalho. A supervisora técnica de fisioterapia da unidade, Cintia Figueiredo da Silva, de 36 anos, caiu em lágrimas ao lembrar da saudade da família por causa da missão que escolheu seguir.


“Para a gente que está na linha de frente, é muito difícil cuidar do próximo e deixar os nossos em casa. Faz um mês que não durmo com o meu filho Vitor, de 4 anos. Ele está com a minha mãe e me pede todos os dias para voltar para ele. E, nesses momentos, como faz falta um abraço”, conta a moradora do Jardim Conceiçãozinha.


Em casa, Cintia usa máscara o tempo todo e fica restrita ao seu quarto, além de ter seus objetos pessoais totalmente separados. “O outro lado é que, quando colocamos a roupa de trabalho, somos profissionais e estamos numa batalha pela vida. No meu caso, cuidando da ventilação mecânica, para a pessoa poder voltar a respirar.”


Como Cintia, outros 260 profissionais de saúde estarão totalmente focados em cuidar dos pacientes com Covid-19 a partir de deste sábado (9). Na unidade, serão 70 leitos, dos quais 50 clínicos e 20 de Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Na sexta-feira (8), padre e pastores abençoaram os profissionais que estiveram no local e rezaram juntos pedindo proteção.


Segundo o prefeito Válter Suman (PSB), o acolhimento e a humanização são diferenciais. “Parte disso será feito na comunicação dos pacientes internados com os familiares lá fora. Isso será feito por meio de tablets, tornando muito mais humana essa condição. A relação de cuidado da equipe médica com pacientes e familiares também ajudará muito na recuperação de muitos deles.”


Ar descontaminado


O sistema de climatização da unidade tem troca constante de oxigênio para a segurança dos profissionais e moradores da região. De um lado, um equipamento é responsável por captar ar limpo da natureza e refrigerá-lo. Do outro, um exaustor com filtragem vai expelir o oxigênio potencialmente contaminado, tratá-lo e devolvê-lo à atmosfera.


Hospital de campanha em Vicente de Carvalho, Guarujá
Hospital de campanha em Vicente de Carvalho, Guarujá   Foto: Matheus Tagé/AT

Esse fluxo garantirá que o interior das tendas esteja sempre climatizado e com oxigênio novo – diferentemente de um sistema de refrigeração comum, no qual o ar permanece suspenso no ambiente por um bom tempo.


O secretário de Saúde de Guarujá, Vitor Hugo Straub Canasiro, explica que esse sistema é inédito na Baixada Santista.


“Isso é para que nós mantenhamos uma atitude responsável com relação ao ar exalado para a atmosfera. Então, a população do entorno pode ficar tranquila, porque estamos cumprindo o nosso papel.”


O engenheiro em segurança do trabalho da Secretaria de Saúde de Guarujá, Joaquim Gomes Heleno Júnior, diz que, “como as tendas de isolamento são para tratamento de uma doença infectocontagiosa grave, há a certeza de que, no interior delas, o ar que circula é contaminado”. Por isso, o método de climatização é peça chave para evitar a propagação do vírus.


Linha de frente


A enfermeira emergencista e intensivista Bianca Giardini, de 34 anos, diz que o maior desafio entre um plantão e outro é chegar em casa, nas Pitangueiras, em Guarujá, e ficar sozinha. “Faz 60 dias que não vejo minha mãe e minha avó, que moram no Interior. Eu ia sempre para lá. Então, não está fácil. Eu volto para casa com a rotina de isolamento, de higienizar a roupa de trabalho separado, tirar o sapato antes de entrar e o cuidado para não levar problema para ninguém. Não podemos receber amigos em casa, nada. Sinto falta de conversar. Estar focada no trabalho me mantém firme.”


A unidade


O investimento é de R$ 14,9 milhões por três meses de funcionamento, incluindo montagem, aquisição de máquinas, equipamentos (inclusive respiradores), manutenção e salários. O complexo, composto por duas tendas, tem 3 mil metros quadrados, tem uma cozinha industrial, três farmácias, cabines de desinfecção por névoa de ozônio para profissionais em duas etapas - sendo a primeira ainda paramentado com seus equipamentos de proteção individual (EPI), e a segunda já no processo de retirada deles -, vestiários com armários individuais e refeitório. 


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