Heróis anônimos se unem às equipes de resgate na busca por soterrados na região

No Morro do Macaco Molhado e Barreira do João Guarda, em Guarujá, e no Morro do Tetéu, em Santos, não foram poucos os voluntários que arregaçaram as mangas

Por: Rosana Rife & e Matheus Müller &  -  03/03/20  -  22:20
Os guarda-vidas Welton e Fernando enfrentaram a lama para ajudar no resgate de corpos em Guarujá
Os guarda-vidas Welton e Fernando enfrentaram a lama para ajudar no resgate de corpos em Guarujá   Foto: Carlos Nogueira/AT

Em meio à tragédia que matou ao menos 13 pessoas em Guarujá e uma em Santos nesta terça-feira (3), alguns voluntários se juntaram às equipes do Corpo de Bombeiros e Defesa Civil para ajudar no resgate de pessoas soterradas no Morro do Macaco Molhado e na Barreira do João Guarda, em Guarujá, e no Morro do Tetéu, em Santos. Era uma tentativa de minimizar os estragos a quem se viu, de uma hora para outra, sem moradia, sem chão e sem rumo.


Dois desses heróis anônimos são os guarda-vidas temporários Welton dos Santos Oliveira, de 23 anos, e Fernando de Jesus, de 18. Emocionado, Oliveira conta que chegou a retirar o corpo de uma criança, já sem vida, dos escombros na Barreira. "Cheguei às 11h30. Os trabalhos estão pesados, mas tem muita gente ajudando. Não é fácil. No começo da tarde, ajudei a retirar o corpo de uma criança de 7 anos. É muito triste".


Diversos moradores do João Guarda foram às ruas em busca de sobreviventes
Diversos moradores do João Guarda foram às ruas em busca de sobreviventes   Foto: Carlos Nogueira/AT

O eletricista Rafael Azevedo, de 33 anos, também participou da retirada de dois corpos do bairro onde mora há 30 anos e garante não ter visto nada igual na Barreira do João Guarda. "Estou desde ontem [segunda-feira] à noite nos trabalhos. Tem umas 30 casas ainda embaixo da terra".


Quem também se juntou ao grupo de voluntários foi a caseira Adelaide Souza da Silva, de 47 anos, que mora no Jardim Virgínia e decidiu passar seu dia de folga prestando auxílio a quem mais precisava. "Fico emocionada. Nunca tinha visto algo desse tipo. É tanta tristeza e criança no meio que não pensei duas vezes. Estava de folga, mas quis ajudar. É algo importante nesse momento".


No Morro do Macaco Molhado, houve mobilização semelhante. O ajudante geral Fabiano Barbosa, de 42 anos, estava desde as 5h de terça-feira auxiliando as equipes de resgate e não escondeu a tristeza com a situação. "Muito triste ver meus amigos saírem daqui mortos e carregados. Conhecia o pessoal que morreu. Era tudo vizinho. É difícil".


Outro herói anônimo foi o auxiliar de serviços gerais Ancelmo dos Santos, de 42 anos. Ele trabalhou durante a madrugada de terça-feira e, quando chegou em casa, já correu para ajudar. Era vizinho de um dos moradores que morreram no deslizamento de terra no Morro do Macaco Molhado.


"Perdi um amigo que era pau para toda obra. Ajudava todo mundo. Agora, também estou tentando fazer o mesmo. A solidariedade é o que importa nesse momento".


Morro do Tetéu


O técnico de som Jefferson Hurtado Sierra, de 22 anos, morador do Morro do Tetéu, em Santos, foi um dos primeiros a chegar para ajudar as vítimas soterradas. Mais de seis casas foram atingidas.


“Vivemos em comunidade. Não podemos ver o próximo na pior e não ajudar. Fiz o meu melhor. Não só eu como outros moradores. Saí de madrugada, no impulso”, diz Sierra. Os escorregamentos naquela região começaram por volta das 21h, mas só perto das 2h é que as moradias foram atingidas.


O jovem conta que esteve com o cabo Moraes, do Corpo de Bombeiros – que morreu durante o atendimento dos deslizamentos em Guarujá. “Ele estava comigo de madrugada. Infelizmente ele faleceu. O conheci de vista. Chegamos a carregar algumas tábuas juntos. Ele me orientou bastante a sempre estar alerta”.


Sierra reforça a importância do envolvimento de todos.  “Não só nós moradores corremos o risco, como pessoal do Corpo de Bombeiros, que está lá para nos orientar a ficar esperto em caso de novos deslizamentos, como ocorreu de madrugada e nos fez correr. Mas voltamos no impulso e na adrenalina”.


Jefferson é morador do Morro do Tetéu
Jefferson é morador do Morro do Tetéu   Foto: Arquivo Pessoal

Logo A Tribuna
Newsletter