Golpe do saque emergencial do FGTS faz dezenas de vítimas no litoral de São Paulo

Criminosos invadem aplicativo da Caixa, mudam dados e levam os R$ 1.045,00 liberados aos trabalhadores

Por: Maurício Martins  -  23/10/20  -  15:13
Oito agências de cinco cidades da Baixada Santista vão funcionar neste sábado, das 8h às 12h
Oito agências de cinco cidades da Baixada Santista vão funcionar neste sábado, das 8h às 12h   Foto: Alexsander Ferraz/AT

Se você tem saldo no FGTS e não viu o seu extrato recentemente, é bom dar uma olhada. O valor do saque emergencial, de até R$ 1.045,00, liberado pelo Governo Federal, pode ter ido para as mãos de bandidos. Os casos vêm aumentando em todo o Brasil e não é diferente na região: golpistas fraudam o aplicativo Caixa Tem, da Caixa Econômica Federal, mudam os dados do beneficiário e ficam com o dinheiro.


Clique aqui e assine A Tribuna por apenas R$ 1,90. Ganhe, na hora, acesso completo ao nosso Portal, dois meses de Globoplay grátis e, também, dezenas de descontos em lojas, restaurantes e serviços!


A Caixa abriu automaticamente conta poupança social digital para os trabalhadores e depositou lá os valores para todos que têm saldo no FGTS, seguindo um calendário que é de acordo com o mês de aniversário. Ou seja, mesmo quem não quer retirar, teve o valor depositado. Se após um mês não for sacado ou usado para pagamento de contas e boletos, o total volta ao FGTS.  


Mas nesse meio tempo, os criminosos podem agir. A movimentação do dinheiro só pode ser feita pelo Caixa Tem e o aplicativo tem sido invadido. Muitas pessoas quando tentaram entrar para verificar o valor, não tiveram acesso porque suas informações pessoais, como e-mail e telefone, foram alteradas. A única saída é ir até uma agência do banco. 


Foi o que aconteceu com o trabalhador portuário João Carlos José dos Santos, de 50 anos, que mora em Santos. “Na Caixa falaram que fizeram dois saques na minha conta, de R$ 500,00 e de R$ 400,00 e pouco. O e-mail cadastrado não era meu e o nome de quem sacou era Luís Carlos. Aí entrei com documentação para contestar, me prometeram resposta por e-mail ou mensagem de texto. Faz mais de 10 dias e estou esperando ainda”. 


Para ele, isso demonstra a falta de segurança do banco. “Como pode outra pessoa ter acesso aos meus dados? Para a gente tentar alguma coisa na Caixa é uma burocracia, mas essas pessoas conseguem sacar o FGTS dos outros?”, questiona.  


Também moradora de Santos, a assistente administrativa Irene Silva Aguiar, de 35 anos, teve o valor retirado por bandidos. Contestou, mas a Caixa negou a devolução do dinheiro. Ela fez boletim de ocorrência, entrou com pedido de reconsideração no banco e aguarda um posicionamento.  


“Na delegacia disseram que são muitos casos do tipo. Com o meu dinheiro, os golpistas pagaram boletos. Pedi para a Caixa um comprovante da contestação e não me deram. Se não for ressarcida vou entrar na Justiça”.


"Assim que vi que haviam sacado o meu dinheiro fiz a contestação na Caixa Econômica Federal. O saque foi feito em nome de 'Davi Ferreira', uma pessoa que nunca ouvi falar. É obrigação da Caixa tomar alguma atitude e devolver o meu dinheiro", completa o publicitário Carlos Vinícius Lopes.


Direitos 


Coordenador do Procon de Santos, o advogado Rafael Quarema afirma que o banco tem responsabilidade, com base na teoria do risco do negócio. “O banco que se predispõe a oferecer esse serviço, disponibiliza o aplicativo, deve arcar com o ônus também, não pode ter só o bônus. Portanto, deve absorver o prejuízo e ressarcir o consumidor em hipótese de fraude”.  


Quaresma orienta que as pessoas prejudicadas registrem a reclamação no Procon da sua cidade ou na plataforma da Secretaria Nacional do Consumidor, do Ministério da Justiça (www.consumidor.gov.br). “E depois da tentativa de se resolver administrativamente, se não conseguir, o consumidor pode procurar a Justiça”. 


O advogado Brunno Brandi ressalta a obrigação do banco de ressarcir os clientes nesse caso. Caso isso não ocorra, ele afirma que o consumidor deve procurar a Justiça para ter o dinheiro ressarcido e o prejuízo moral reparado.


“A Caixa é a única instituição financeira do País que tem competência pela guarda do dinheiro do FGTS do trabalhador. Não é nenhum exagero dizer que ela tem obrigação social, legal e moral de preservar esse capital”, diz Brandi. 


Para o advogado, cabe à Caixa agir de todas as formas e dedicar os seus melhores esforços para prevenir a ocorrência de fraudes capazes de prejudicar os clientes. “Nessas horas de extrema necessidade, receber a notícia de que o banco ao qual você foi obrigado a confiar o seu dinheiro, por falta de zelo, cautela, o entregou a bandidos, não irá passar despercebido pelo Poder Judiciário”.  


O banco 


Em nota, a Caixa afirma que, para conter as ações dos fraudadores, diversos mecanismos têm sido implementados pelo banco e que melhora os critérios de segurança de acesso ao Caixa Tem constantemente. 


O banco informa que pedidos de contestações de saque podem ser solicitados a qualquer momento nas agências, portando CPF e documento de identificação, e que os processos são analisados com a máxima rapidez. “Os resultados das análises são repassados diretamente aos interessados. No caso de negativa do pedido, poderá ser solicitada a reanálise". 


A Caixa não quis informar o número de fraudes do tipo registradas. “Por motivos de segurança, os dados de contestações e os critérios técnicos de análise de suspeitas de fraudes não podem ser expostos ao público, mas apenas aos órgãos policiais envolvidos nas investigações”. 
 
O banco afirma atuar com a Polícia Federal e demais órgãos de segurança pública na identificação de casos suspeitos e na prevenção das fraudes. 


Polícia Federal


A Polícia Federal (PF) informa que, por se tratar de investigações em andamento, não há dados consolidados para serem divulgados. A PF diz que não há a necessidade de o cliente registrar boletim de ocorrência.  


“A Caixa encaminha para a Polícia Federal dados estruturados de todos os processos onde houver irregularidades. Esses dados são alocados em uma base e são utilizadas ferramentas para a identificação da atuação de organizações criminosas e fraudes”.   


Logo A Tribuna
Newsletter