Moradora de Praia Grande supera depressão e vence Miss Brasil Plus Size

Ângella Becc se dedica à vida de modelo e dançarina após uma longa jornada de autoaceitação

Por: Gabriel Fomm  -  03/08/22  -  07:13
Atualizado em 03/08/22 - 07:29
Ângella Becc recebendo a coroa do concurso Miss Brasil na categoria curve
Ângella Becc recebendo a coroa do concurso Miss Brasil na categoria curve   Foto: Arquivo Pessoal

Fora do padrão da maioria das modelos, a moradora de Praia Grande Ângella Becc, de 28 anos, ganha a vida desfilando, tirando fotos, dançando e empoderando mulheres plus sizes (manequim acima de 46). Com piercings e tatuagens que cobrem o corpo, ganhou os concursos de Miss São Paulo, na categoria plus size e Miss Brasil, na categoria curve.


Clique, assine A Tribuna por apenas R$ 1,90 e ganhe centenas de benefícios!


Representando Praia Grande, Ângella ganhou o concurso Miss São Paulo na categoria Plus Size em agosto de 2021. “Fiquei surpresa. Ganhei o título de Miss Simpatia. Geralmente quem leva esse, não recebe o principal do concurso. Então, na hora que eu levei, já sabia que eu não ia ganhar, mas Deus achou que era o momento”, explica.


“Quando eu participei, fiquei com o pensamento de me divertir e viver a experiência. Na hora que já saiu o resultado, ainda procurei quem que ia ganhar porque eu pensava que não era possível”, comenta a modelo.


Nascida em São Vicente, a modelo de 29 anos ficou confinada por três dias até o desfile que coroava a Miss. Becc ficou em um hotel, pago pela agência organizadora do evento, em São Paulo.


Durante o desfile, transmitido ao vivo pelas redes sociais, Ângella foi anunciada como vencedora. “Fui convidada faltando 20 dias para o concurso, já estavam encerrando as inscrições e eu não tinha vestido, não tinha nada e resolvi ir porque era uma grande experiência, um concurso estadual”, relembra.


Depressão
Após sua primeira vitória, a modelo teve que se preparar para o Miss Brasil, que foi em novembro do mesmo ano, mas próximo ao dia do concurso teve que lidar com mudanças. "Fui trocada de categoria, porque entre os concursos eu emagreci 25 quilos e tive uma depressão muito grande por conta de um relacionamento tóxico que eu vivi”, relata.


De plus size, Ângella foi transferida para a categoria curve, que inclui mulheres que não se enquadram nas medidas padrões para ser uma modelo tradicional e nem tão consideradas acima do peso. O concurso foi três meses após o Miss São Paulo.


“Foi um relacionamento onde eu me fechei pra mim, onde não me via mais. Mesmo que você seja uma mulher empoderada, você é um ser humano, não uma máquina, não está preparada para ser uma deusa sempre”, explica a modelo.


Julgamento
Integrante de um grupo que soma cerca de 82 mil seguidores nas plataformas digitais, a modelo e dançarina teve que lidar com comentários negativos sobre o emagrecimento repentino. “Entrei no poder plus que é um grupo de dança, que a gente empodera mulheres reais através da dança”, conta Ângella.


“Fui julgada, atacada e comentaram nas minhas fotos, porque as pessoas estão acostumadas a julgar antes de perguntar se você está bem, se aconteceu alguma coisa. Em nenhum momento eu fiz regime para emagrecer, foi por depressão”, afirma.


Mesmo com as críticas, venceu também o concurso de Miss Brasil na categoria curve. Algo que, por conta da repercussão negativa, não esperava. Atualmente Angella diz se sentir orgulhosa de sua trajetória.


“Ser miss é muito mais do que ter uma faixa e uma coroa, você tem que mostrar na hora que você sai da sua casa. Como você trata as pessoas, se você é humilde, se tem um coração bom”, diz.


Mudança de corpo
Mãe aos 18 anos, Ângella teve que lidar com o sobrepeso pela primeira vez durante e após a gravidez. “Quando eu tive o meu filho, engordei 40 quilos. Foi muito difícil, porque eu achei que ia voltar ao corpo antigo, como muitas mulheres acham que é fácil para voltar. Sempre fui muito magra quando eu era criança, tanto que eu já era modelo infantil”, conta.


“Isso abalou a minha autoestima e também a minha vida, porque eu também não tinha um apoio emocional do meu marido na época. Ele acabava prejudicando um pouco. Eu tive muita pele, por ter ido de 40 quilos para 89”, relembra.


Na época, Ângella estava em seu primeiro casamento e relata ter faltado apoio de seu parceiro, que por muitas vezes brincava e a colocava para baixo com piadas sobre seu sobrepeso.


A modelo desfilando no concurso e dançando em etapa do Miss Brasil Curve
A modelo desfilando no concurso e dançando em etapa do Miss Brasil Curve   Foto: Arquivo Pessoal

Origens
Sua mãe, sua principal incentivadora, tentava fazer com que retomasse a carreira, mesmo depois de ter engordado. “Minha mãe sempre me levava nas lojas plus size para fazer propaganda minha, porque quando eu era modelo infantil, ela gostava e acompanhava todos os desfiles”, diz.


“Tudo começou com um concurso aqui na Baixada, que entrei para fazer material gráfico. Fui na intenção de conquistar clientes e acabei participando. Lá que aprendi bastante coisa legal, tive aula de passarela e foi meu primeiro contato com a categoria plus size”, comenta.


Carreira
Ângella participou de diversos concursos e desfiles durante sua carreira, com destaque a Osasco Fashion Week. “Foi a maior experiência que eu tive na minha vida, foram 30 dias viajando todos os dias. Consegui passar com quatro marcas, mesmo sem ter altura. Mostrei meu talento e consegui a vaga”, relembra.


Em 2019, a modelo também participou do São Paulo Fashion Week representando a marca "Maria Abacaxita" e, na mesma época, começou a se dedicar à dança.


Hoje atua como embaixadora do movimento Poderosa Plus, que tem como objetivo empoderar mulheres para que se sintam confiantes com seu corpo. Para isso são oferecidos workshops, desfiles e terapia psicológica.


“Consigo ajudar muitas mulheres. Não estou aqui para ser um corpinho bonito, tenho uma missão e é através desse meu trabalho que eu consigo fazer o que eu tanto quero, que é empoderar”, afirma.


Logo A Tribuna
Newsletter