Estudo põe estuário de Santos e São Vicente em alerta

Dados preliminares apontam concentração de 80 mil partículas de microplástico por grama de sedimentos

Por: Tatiane Calixto & Da Redação &  -  12/12/19  -  22:46

Dados preliminares de um estudo comandado pelo InstitutoEcoFaxinamostram uma realidade preocupante. Amostras analisadas em laboratório revelam uma concentração de 80 mil partículas por grama de sedimento no estuário de Santos e São Vicente.


Segundo o diretor-presidente do instituto, William RodriguezScheips, não existe concentração aceitável demicroplástico, o que torna esse volume em apenas um grama “assustador”. “Estamos fazendo coletas desde o ano passado e as análises começaram agora em 2019”, explica.


O estudo é realizado em parceria com pesquisadores da Unesp e da USP e tem previsão de ser concluído no primeiro semestre de 2020. Os resultados preliminares, porém, foram apresentados no mês passado na 2ª Conferência sobre Lixo Marinho eMicroplásticos, em Portugal.


Foram coletadas amostras de sedimentos do fundo do estuário em pontos como o canal de São Vicente, Largo daPompeba, Rio Bugres, Rio Casqueiro, Canal dePiaçaguera, Ilha Barnabé e canal do Porto de Santos.


O queé?


Para ser considerado micro, esses fragmentos precisam ter até 5 milímetros. Como o plástico demora séculos para se decompor, essas partículas vão se soltando de garrafas pet, copos, canudos que são descartados de forma incorreta, mas também de outros materiais que parecem menos óbvios para a população em geral.


Ao lavar roupas de tecido sintético ou esfoliar a pele com alguns cosméticos, por exemplo, tambémcolabora-secom o aumento domicroplásticona natureza.


A aparência do microplástico, visto a partir de lentes de aumento
A aparência do microplástico, visto a partir de lentes de aumento   Foto: Divulgação/ Instituto Ecofaxina

Região


Apesar disso,Scheipsalerta para uma realidade da região que tem muito impacto sobre este cenário, que é a falta de fiscalização em áreas de preservação e o aumento desubmoradiasnesses locais.


“Diminuir omicroplásticoda natureza requer ações em várias frentes. Pensar uma indústria que consiga substituir o plástico por produtos biodegradáveis e recolher o material já existente na natureza são alguns pontos”, diz o diretor-presidente doEcoFaxina.


Mas, ao contrário de países desenvolvidos, na região, ainda é preciso fazer a lição de casa, garantindo a preservação do manguezal, fiscalizando o descarte irregular de materiais nestas áreas e resolvendo a questão dasubmoradias.


“Temos cerca de 80 mil pessoas vivendo em palafitas. Sem saneamento e políticas públicas, o esgoto e os resíduos dessas pessoas vão diretamente para o manguezal. Temos que ter projetos para garantir uma moradia digna para essa população e que preserve a natureza”.


Por isso, o trabalho do instituto é também colaborar com políticas públicas que ajudem na recuperação dos manguezais, na limpeza das águas e na discussão de ações mais sustentáveis. Mais um passo, dizScheips, será dado com a conclusão do estudo. Isso porque, de acordo com ele, faltam dados e pesquisas sobre o assunto.


“Já temos empresas interessadas em discutir parcerias que ajudem na limpeza e preservação dos manguezais, até porque elas têm responsabilidade compartilhada dentro dessa cadeia de consumo. Ações como essas, ao lado de políticas habitacionais, poderiam ajudar muito”.


Consciência


Conforme o InstitutoEcoFaxina, o plástico é um material feito para durar. Por isso, não faz sentido jogá-lo fora. Assim, é necessária uma conscientização de cidadãos, empresas e do poder público para que comecem a adotar uma nova postura, com logística adequada de coleta, destinação e beneficiamento que permita às pessoas adquirirem novos hábitos. E, por outro lado, uma fiscalização punitiva para quem descartar resíduos de maneira incorreta.


Impactos


Uma vez no ambiente, os materiais plásticos vão se fragmentando ao se degradarem em decorrência, por exemplo, da exposição ao sol ou da ação da água salgada. Os pedaços ficam tão pequenos que se inserem nas cadeias alimentares dos oceanos, chegando até os seres humanos. Estimativas da ONU sugerem que existem cerca de 51 trilhões de partículas demicroplásticodispersos no oceano. O impacto delas na saúde do ser humano ainda não foi bem estudado, mas pesquisadores já descobriram que as partículas mais finas podem atingir tecidos humanos, provocando respostas imunelocalizadas.


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