Entidades da Baixada Santista gritam por socorro com queda de até 70% nas doações

Elas ainda tiveram de ver o sumiço do trabalho voluntário e lidar com a falta de dinheiro que vinha de eventos sociais por conta da pandemia do coronavírus

Por: Nathália de Alcantara  -  28/03/21  -  13:30
A presidente da Casa Vó Benedita, Elizabeth Rovai, sofre para manter o estoque da entidade em dia
A presidente da Casa Vó Benedita, Elizabeth Rovai, sofre para manter o estoque da entidade em dia   Foto: Vanessa Rodrigues/AT

Em meio ao agravamento da pandemia do coronavírus, o pedido de ajuda vem de todos os lados. Com o aumento do desemprego e a redução da renda, as doações chegam cada vez menos nas entidades da região, que já registram queda de até 70%. Hoje, elas imploram para serem lembradas e, assim, siam seus trabalhos nas diversas comunidades.


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A presidente do Lar Espírita Mensageiros da Luz, Edna Daguer, viu cair 70% das doações em um ano de covid-19. “Temos muito menos doações tanto de roupas usadas como financeiro. Nosso custo é muito alto e as contas não podem atrasar, pois podem virar uma bola de neve”.


A entidade abriga 30 pessoas com paralisia cerebral e outras deficiências associadas, com idade entre 2 meses e mais de 60 anos. Existe ainda um trabalho extensivo às famílias.


“Como bons brasileiros, seguimos tendo muita esperança. Quem ajudava mais de uma entidade hoje ajuda uma só, porque as pessoas perderam o poder de compra. Muitas empresas que nos ajudavam também cortaram as doações”, diz Edna, que deposita suas esperanças de dias melhores na loja virtual de ovos de Páscoa (veja abaixo).


A presidente da Casa Vó Benedita, Elizabeth Rovai, percebeu uma queda de 50% na arrecadação e se desdobra para colocar em dia a folha de pagamento de funcionários, que está atrasada.


“A doação diminuiu muito em todos os aspectos, tanto nos alimentos quanto no financeiro. Temos de correr atrás para não deixar faltar nada para nossas crianças, então toda ajuda é importante, mas nossa maior dificuldade hoje é a financeira”.


Além do cuidado com as crianças, inclusive com remédios, as compras de materiais de higiene e limpeza, além do pagamento de funcionários e das conta de água e luz, têm sido grandes dificuldades.


“Precisamos muito de fraldas PM, M e G e geriátrica para um adolescente. Ainda leite líquido e em pó”, pede Elizabeth.


A Casa Vó Benedita abriga atualmente 20 crianças e adolescentes de 2 a 16 anos, vítimas de abandono ou maus tratos. Apesar da creche da unidade Vila Nova estar fechada por conta da pandemia, as famílias recebem cestas básicas e o que mais precisarem.


“A fome está muita. Está bem difícil a situação em alguns lugares. Nós temos acompanhado e seguimos trabalhando para fazer a nossa parte da maneira que podemos”, diz a presidente.


Mais dificuldades


Para tentar driblar as dificuldades, o Núcleo de Reabilitação do Excepcional São Vicente de Paulo (Nurex) lançou a campanha de sócios Procura-se Anjo da Guarda.


“O Nurex não é um clube de benefícios onde a pessoa recebe vantagens, a gente brinca que o associado recebe apenas uns pontinhos com Papai do Céu. A pessoa se associa para nos ajudar, mesmo. Com a pandemia, precisamos buscar outras formas de alavancar nossa renda fixa. Estamos com uma meta ousada de buscar mil associados”, explica o presidente da entidade, Célio Dias Sales.


Ele relata que a queda nas receitas foi de R$ 150 mil no ano, e isso impactou diretamente na diminuição do quadro de funcionários em cerca de 12%. “Estamos passando por poucas e boas nesse período”, desabaga.


O Nurex atende 110 crianças, adolescentes e adultos com deficiências múltiplas e outras síndromes, mas principalmente com autismo e paralisia cerebral.


No Projeto Tia Egle, a presidente Egle Rodrigues Pereira tem se virado para manter o suporte de 225 famílias em situação de vulnerabilidade social do Dique da Vila Gilda.


“Durante a pandemia, passamos a atender até pessoas do Quarentenário, do Morro do Tetéu e outros lugares. Estamos precisando ajudar mais gente”.


Estão sendo preparadas marmitas para retirada no local. Tudo o que chega de doação, como alimentos, cestas básicas e roupas, é avisado por um grupo no WhatsApp e quem mais precisa busca, explica Egle.


“O que temos conseguido preparar é canja para o pessoal levar para casa e comer. A situação está muito mais assustadora do que da outra vez. Perdemos muitas coisas nessa pandemia, principalmente pessoas próximas e queridas para a morte. Mas ganhamos em solidariedade”.


Pior ainda


Além da queda nas doações, o número de voluntários também despencou por conta das medidas de prevenção da covid-19, como o isolamento social. Além disso, os eventos beneficentes, que eram peça fundamental na manutenção da renda, estão cancelados a mais de um ano e sem previsão de retorno.


“Nós recebemos o subsídio da prefeitura e a outra parte é complementada com eventos. Nosso tradicional jantar dançante, por exemplo, com pelo menos 400 participantes, não aconteceu”, explica o presidente do Nurex, Célio.


Quem concorda com ele é a presidente da Casa Vó Benedita, Elizabeth. “Voluntários não estamos pegando para não aglomeração e os eventos também estão cancelados, Nosso bazar também está fechado e, por tudo isso, não está entrando dinheiro”.


A falta de eventos também afetou o Lar Espírita Mensageiros da Luz, explica a presidente Edna Daguer, mas os voluntários têm feito uma grande falta.


“Os serviços de enfermagem estão sobrecarregados. Sem voluntários é bastante difícil, pois não podemos deixar ninguém entrar na entidade, mas eles ajudavam a contar histórias e dar comida. Infelizmente, tivemos de fechar as portas para esse tipo de ajuda”.


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