Empresários da Baixada Santista encontram dificuldade em adquirir crédito em meio à pandemia

O gerente regional do Sebrae, Marco Aurélio Rosas, diz que quem empresta costuma ter rigor excessivo

Por: Maurício Martins  -  21/06/20  -  19:43
Doria anuncia R$ 150 milhões em crédito para microempreendedores
Doria anuncia R$ 150 milhões em crédito para microempreendedores   Foto: Matheus Tagé/AT

Conseguir um empréstimo na atual crise provocada pela pandemia do novo coronavírus pode ser decisivo para que uma pequena empresa não feche as portas. Porém, ter acesso ao dinheiro não está fácil. Pesquisa feita pelo Sebrae, em parceria com Fundação Getulio Vargas (FGV), mostra que 86% dos pequenos negócios que pediram empréstimos não conseguiram (58%) ou ainda estão sem resposta (28%). Ou seja, somente 14% tiveram sucesso. 


O levantamento sobre as empresas na pandemia foi feito entre 30 de abril e 5 de maio, com 10.384 entrevistados no País. Segundo o Escritório Regional do Sebrae na Baixada Santista, a mesma realidade pode ser projetada na região e demonstra que a ampliação das linhas de crédito anunciada pelo Governo Federal ainda não surtiu efeito. 


Dos empreendedores pesquisados, 89% disseram que o faturamento mensal diminuiu (em média 60%) por causa das restrições impostas pelo coronavírus. Apenas 38% solicitaram crédito, mas 59% disseram que vão precisar de dinheiro emprestado para manter seus negócios em funcionamento. A maioria deles, 63%, busca auxílio em bancos públicos.


Problemas nos dois lados 


O gerente regional do Sebrae, Marco Aurélio Rosas, diz que quem empresta costuma ter rigor excessivo. Já para quem pede, muitas vezes falta um planejamento sobre o uso do dinheiro e o oferecimento de garantias. 


“As dores que esses empresários estão sentindo, nós sentimos quando atendemos na Baixada Santista. De cada 10 atendimentos, seis são sobre crédito. A primeira questão que percebemos é a falta de organização financeira. Não adianta chegar no banco e pedir R$ 100 mil sem saber como vai utilizá-lo. O planejamento ajuda muito na concessão do crédito”. 


O gerente explica que as empresas brasileiras sobrevivem, em média, de 13 a 17 dias fechadas. Nos Estados Unidos, esse prazo vai de 29 a 47 dias. “A nossa média de respiro financeiro é baixa, o que faz a necessidade de crédito aumentar”. 


Rosas lembra que o banco vai querer garantias e, em um período de incerteza, a situação fica pior. Para quem não tem o que oferecer, há novidades. Uma delas é o Fundo de Aval às Micro e Pequenas Empresas (Fampe). Nele, o Sebrae entra como avalista e cobre até 80% do valor se a empresa não pagar (detalhes no site do Sebrae).


O outro é o Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe), lançado há poucos dias pelo Governo Federal. As instituições têm como garantia o dinheiro injetado pela União no Fundo Garantidor de Operação (FGO), administrado pelo Banco do Brasil.


“A questão da garantia agora está sanada. Outro ponto é que, se a empresa tem alguma restrição (inadimplente), também dá negativa de crédito”, ressalta o gerente. “O empréstimo é um respiro neste momento, mas não a solução completa. É fundamental – e o Sebrae pode ajudar - um planejamento futuro. Para que o empresário consiga honrar esse empréstimo e saia da melhor forma possível dessa crise”. 


Quem consegue busca fôlego para manter funcionamento


Sócia de um restaurante no Boqueirão, em Santos, Simone Zanasi, de 49 anos, conseguiu um empréstimo na segunda tentativa, por meio da Caixa Econômica Federal, com garantia do Sebrae (Fampe). O dinheiro foi liberado em uma semana, com 12 meses para pagar a primeira parcela e juros de 1,33% ao mês.


“Acho que o Governo demorou muito para começar a liberar crédito. Já tinha tentado o crédito da Desenvolve SP (Governo do Estado), mas não consegui. Não tem como saber por quanto tempo dá para se manter diante das incertezas”. 


A necessidade de crédito não é vista com naturalidade pela maioria dos empreendedores, nem diante de uma pandemia. A Reportagem tentou falar com pessoas que tiveram o dinheiro negado, mas elas não quiseram participar por constrangimento.


Imagem ruim


E mesmo quem conseguiu tem medo que essa divulgação possa passar uma imagem ruim de seu negócio. É o caso da dona de uma agência de turismo em Santos que pediu para não ter o nome divulgado. Ela obteve R$ 12 mil em crédito. 


“Precisei de dinheiro a partir de maio, quando meu capital de giro acabou. Trabalho muito com turismo rodoviário e muitos clientes pediram devolução dos valores pagos, não aceitando remarcação da passagem para uma data futura. Desde 13 de março não vendi mais viagens”. 


Primeiro, a dona da agência tentou num banco privado, mas a alta taxa de juros e a carência de apenas 90 dias para começar a pagar não faziam a conta fechar. Até que ela conseguiu, também com a ajuda do Sebrae, na Caixa. Vai começar a pagar em maio de 2021, em 24 vezes, com taxa de juros abaixo de 2%. 


“Agora os clientes começam a pensar em algo e o mercado está começando a aquecer, Mesmo quem não viajava vai rever suas prioridades de vida”.


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