Em 2030, Baixada Santista terá 1,1 milhão de veículos emplacados

Esse é o tamanho da frota que a Baixada Santista deverá ter em dez anos. Redução de impactos negativos requer ações metropolitanas

Por: Eduardo Brandão & Da Redação &  -  24/02/20  -  00:59
Atualmente, são cerca de 908 mil veículos circulando nas nove cidades da região
Atualmente, são cerca de 908 mil veículos circulando nas nove cidades da região   Foto: Luigi Bongiovanni

Vias saturadas, maior tempo de deslocamento nas cidades e alta na emissão de gases de efeito estufa. Um caos logístico e ambiental é esperado para os próximos dez anos. Para 2030, projeções indicam que a Baixada Santista deve ultrapassar 1,1 milhão de veículos emplacados. Só um planejamento articulado entre as cidades poderá evitar o colapso, dizem especialistas.


Na última década, a quantidade de veículos rodando na região disparou 58,6%, mais de seis vezes acima do aumento populacional, de 9,08%. Entrevistados afirmam que, sem áreas para grandes projetos viários nem planejamento logístico regional, as cidades deverão tomar medidas drásticas.


Estudiosos ouvidos por A Tribuna apontam a necessidade de ampliar o Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), estender opções de transporte coletivo e limitar a circulação de veículos – com rodízio ou cobrança de pedágio em áreas urbanas, com taxas para estacionamento em vias públicas.


Essas possíveis soluções têm a ver com a hipótese de se confirmar o crescimento projetado da frota. Caso isso ocorra, a Baixada terá um veículo por 1,8 habitante. Nos Estados Unidos, o país mais motorizado, há um veículo por 1,25 cidadão. Atualmente, são cerca de 908 mil veículos em circulação nas nove cidades locais – duas pessoas por unidade, o dobro da média nacional, de um para quatro.


“Isso vai impactar na qualidade de vida, que é um dos indicadores da região. Projeta-se aumento no fluxo de veículos, inclusive nos horários que não são de pico, e no tempo de deslocamento, mesmo para curtos trajetos”, observa o especialista em Logística e professor da Universidade Metropolitana de Santos (Unimes), Rafael Alves Pedrosa.


Já são mais


Especialista em Gerenciamento de Cidades e professor da Universidade Católica de Santos (UniSantos), Augusto Muniz Campos entende que os atuais números oficiais da frota estão superados. “Hoje, já circulam na Baixada Santista muito mais veículos do que os registrados”.


Campos explica que “isso se deve às atividades do Porto, do Polo Industrial de Cubatão e ao turismo. Somente uma pesquisa de origem e destino avaliaria corretamente os diferentes locais para o planejamento”.


Os especialistas consideram que, para reduzir o uso do automóvel e, por consequência, a emissão de gases do efeito estufa, será preciso fazer como em cidades da Europa: investir em transporte público confortável e pontual.


Cruzamento


Para esta reportagem, A Tribuna fez um cruzamento de números e projeções
com base em informações do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) e da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade).


Com base nesses números, Santos deve se manter no topo na quantidade de veículos emplacados na região, chegando a 2030 com a média de um veículo para cada 1,5 santista.


Plano regional avança com lentidão


O Plano Metropolitano de Desenvolvimento Estratégico da Baixada Santista (2014-2030), elaborado pela Agência Metropolitana (Agem), antevê o crescimento regional da frota de veículos. Contudo, poucos pontos do estudo avançaram nos últimos anos.


O documento destaca a necessidade de “tornar o sistema de vias macrometropolitanas capaz de atender plena e satisfatoriamente às demandas de veículos de cargas e de passeio”.


O professor Augusto Muniz Campos, porém, enxerga que o principal seja o fortalecimento do transporte público. “Ampliação e melhorias das ciclovias e calçadas são fundamentais para incentivar o uso de veículos não poluentes. E a ampliação do VLT para Praia Grande, o que traria grande contribuição à circulação nas cidades”.


O especialista Rafael Pedrosa acrescenta que as poucas ações desenvolvidas atualmente em trânsito e transporte são isoladas. “Embora tardio, um planejamento unificado (de mobilidade urbana) precisa sair do papel, para que se possam encontrar soluções coletivas para o bem da região”, salienta.


Nas maiores cidades


Prefeituras das maiores cidades da região se manifestaram sobre a projeção de aumento da frota e a necessidade de ações para conter eventuais efeitos negativos:


Santos - Afirma ter adotado regras para priorizar os modos de transporte não motorizado. Faixas exclusivas para o transporte coletivo e bicicletas são citadas para desestimular o uso de veículos particulares. A Cidade tem 25 ciclovias e está construindo nove, somando 59,8 quilômetros de extensão. 

São Vicente - Diz incentivar meios de transporte coletivos e saudáveis, como a bicicleta. Aponta a renovação dos ônibus como alternativa de conforto e comodidade aos usuários. Tem 12 quilômetros de ciclovias. Calcula-se, por dia, cerca de 100 mil ciclistas na cidade. 


Praia Grande - Informa ter obras em andamento para melhorar a mobilidade urbana (especialmente em áreas com grande fluxo de veículos e alta densidade demográfica). Aposta no Sistema Viário Binário para desafogar o trânsito nos grandes centros e evitar acidentes. Nele, vias terão mão única, sempre com sentidos de direção alternados. Também há 97 quilômetros de ciclovias. 


Guarujá - A Diretoria de Trânsito afirma ter um instrumento orientador e normativo da política de mobilidade urbana, “buscando a integração entre os diferentes modos de transporte e a melhoria da cessibilidade e mobilidade das pessoas e cargas na cidade”, onde há 60 quilômetros de ciclovias.


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