Do café da manhã ao medicamento: Entenda por que o dólar alto afeta seu bolso

Moeda americana é usada como parâmetro nas negociações internacionais; desvalorização do real incentiva agronegócio nacional a priorizar exportações

Por: Eduardo Brandão  -  11/03/20  -  00:03
Baixa produção de trigo no país obriga importação do produto
Baixa produção de trigo no país obriga importação do produto   Foto: Arquivo/ AT

O dólar renovou sua marca história na manhã desta segunda-feira (9), ao chegar na casa de R$ 4,77 – encerrando o dia cinco centavos abaixo desse teto. A desvalorização do real frente à moeda americana provoca drásticos efeitos na política econômica brasileira. E já pesa no seu bolso. Do café da manhã à gasolina, passando pelo preço do medicamento, aparelhos eletrônicos e até em modalidades de empréstimos financeiros: a escada do dólar tem influência direta no cotidiano dos brasileiros.


Produtos importados e viagens internacionais são os primeiros a sentirem os sinais do dólar alto. A Associação de Exportadores e Importadores de Alimentos estima que os preços de bebidas, queijos e chocolates vindos do exterior devem subir até 12% nesse ano, superando os 3,5% de inflação que analistas projetam para 2020.


O economista Fernando Chagas explica que o real desvalorizado encarece itens importados, oscilando para cima o que é negociado com base na moeda americana. “A valorização do dólar eleva os preços dos bens e serviços no país, em razão do aumento dos insumos e componentes importados, que compõem a produção e prestação de serviços nacionais”. 


A mesma lógica se aplica no turismo ao exterior. Como o dólar é usado como referência para passagem aérea, hospedagem e alimentação, o consumidor já paga mais caro nas viagens internacionais. A dica é se planejar com antecedência a viagem e optar a fechar negócio quando a cotação for favorável.


Desde o começo do mês, são válidas regras para conversão das compras em dólar para real no cartão de crédito. Agora, os bancos terão de usar a cotação do dia da aquisição – não mais no fechamento da fatura, deixando o consumidor exposto à volatilidade da cotação do dólar. 


Alimentos mais caros 


Contudo, não é apenas na conversão direta das moedas que o dólar elevado impacta no orçamento doméstico. Produtos de primeira necessidade, como pão e massas, tendem a subir. A “culpa”, desta vez, é a baixa produção nacional de trigo, que obriga importar o item da Argentina. Apenas a metade do consumo interno do alimento é produzida no Brasil.


Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Panificação (Abip), a escalada do dólar contribuiu para a queda de 1,73% no faturamento das padarias com o pão francês, no ano passado. A entidade não projetou ainda eventual correção no pãozinho. O repasse vai depender dos estoques do produto e por quanto tempo o dólar continuará em alta.


“O dólar alto tem um efeito positivo nas contas nacionais, por estimula a exportação do agronegócio e do grande exportador”, diz o economista Jorge Manuel de Souza Ferreira. Ele explica que o real desvalorizado dá competitividade do produto brasileiro.


Assim, produtores de carnes, soja, açúcar e café tendem a priorizar o mercado externo, reduzindo a quantidade interna. E, com isso, esses itens podem ter seus preços elevados. “Isso faz com que preço [desses produtos] no Brasil”, continua. 


Esse fenômeno ocorreu no fim do ano passado, com a disparada do preço da carne bovina no país. A diferença agora é que a economia mundial está em marcha lenta. A Organização Mundial do Comércio (OMC) tem reduzido as expectativas de crescimento planetário.


“Nesse contexto, os empresários terão dificuldades para repassar os seus custos na produção de bens e serviços ao consumidor, sob o risco de perder clientes”, avalia Chagas.


O dólar mais caro significa preço elevado para a indústria nacional. Produtos de alta tecnologia, como celulares e outros equipamentos eletrônicos, são os mais afetados por depender de importações. Conforme o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), 22,3% dos insumos usados na produção industrial brasileira são importados.


Também são esperados impactos no setor de saúde. Exames clínicos de alta complexidade e medicamentos têm preços reajustados com base à moeda americana. O dólar também serve como parâmetros para empréstimos financeiros a empresas e grandes organizações. “O momento é imensa incerteza econômica”, sintetiza Chagas.


Logo A Tribuna
Newsletter