Dia Internacional da Pessoa com Deficiência lembra luta por inclusão na sociedade

Representando mais de 45 milhões de pessoas no País, deficientes ainda vivem dificuldades no dia a dia

Por: Sheila Almeida  -  03/12/18  -  14:15
Segundo cadeirantes, desmistificação de hábitos e rotina é um dos seus grandes desafios atuais
Segundo cadeirantes, desmistificação de hábitos e rotina é um dos seus grandes desafios atuais   Foto: Carlos Nogueira/AT

Resistência é a capacidade de suportar a fadiga, o esforço, e ir além. É isso o que fazem mais de 45 milhões de brasileiros lembrados nesta segunda-feira (3), no Dia Internacional da Pessoa com Deficiência. Não só para vencer barreiras comuns e diárias, mas para se fazer presente de forma igual.


Quem explica é o presidente do Conselho Municipal da Pessoa com Deficiência (PcD) de Santos (Condefi), Luciano Marques. Segundo ele, tantas leis não cumpridas fazem com que se torne difícil saber se há maior resistência no olhar das pessoas ou para a participação do público PcD na sociedade.


“Difícil, viu? Se você pensar bem, até para sair de casa a pessoa com deficiência tem dificuldade. Eu estou há quase três décadas na luta PcD e a gente olha para o lado e tem sempre os mesmos. Somos um quarto da população santista, um quarto da população do Brasil. Cadê esse povo?”, conta ele, sobre a dificuldade de envolvimento causada pela exclusão social e barreiras da engenharia, transporte, educação e outros entraves.


Para a membro do Condefi de Santos Adelina Oliveira Peres, se você não vê as pessoas com deficiência, esquece da importância de melhorar a vida e conviver com elas. Antes, é preciso envolvimento para quebrar paradigmas.


“Já vencemos numa questão. Antes tinha escola separada. Hoje em dia passamos por um processo de inclusão na educação. Mas a sociedade é excludente por si. Não se exclui hoje só a pessoa com deficiência, mas o diferente. A gente tem que parar de se colocar em caixinhas: a do deficiente, a caixinha do LGBT, a do negro. Só quando superarmos isso vamos evoluir”, diz.


Desmistificando


Para o músico e membro do Condefi Santos Dionisio Perez, o envolvimento, para uns, é novo, mas já faz ultrapassar o olhar de pena para uma curiosidade: como os PcDs conseguem realizar as tarefas do dia a dia. Um exemplo é quando ele toca com a banda de rock Colirium, formada por cadeirantes e pessoas com deficiência visual.


“É inevitável. No começo, as pessoas olham primeiro para a deficiência. Passa um minuto e depois começam: olha, os caras tocam, os caras cantam e ainda compõem!”, conta ele.


Membro do Conselho Municipal da Pessoa com Deficiência de São Vicente, Alcione de Araújo Simões, também presidente da Associação dos Deficientes daquela cidade, conta que quem a conhece ou convive com qualquer pessoa com deficiência, muda.


“No meu trabalho, num primeiro momento, se surpreenderam porque eu sabia trabalhar. Depois, começaram a se preocupar porque não podiam me chamar para ir em casa, pois se eu quisesse ir ao banheiro, a cadeira não passava na porta. Hoje é assim, as amigas avisam: Alcione, reformei o banheiro e quero você no churrasco”, conta ela. “As pessoas vão aprendendo aos poucos”.


Adelina Oliveira Perez, cadeirante, conta rindo que, na gravidez, ela recebeu em casa pessoas que nunca tinham conversado com ela antes.


“Começaram a ver minha barriga crescer, numa cadeira de rodas, e olhavam para o meu marido, entre aspas normal, e falavam: como ele pôde fazer uma coisa dessas com ela”, ri Adelina. “Depois, quando nasceu a criança, ficavam abismados. Pessoas do bairro que eu nunca tinha conversado foram lá em casa para ver”, diz.


Crianças


Luciano Marques conta que leva com tranquilidade as perguntas da população. Segundo ele, crianças perguntam de tudo. “Se a gente dorme na cadeira, como a gente toma banho. Os adolescentes, sobre sexualidade. Os adultos ficam com vergonha de perguntar”, diz ele, falando da importância de naturalizar essas conversas e estimular a convivência para que todos possam enxergar limitações com naturalidade. “Porque limitação não é limite”, diz.


Tudo sobre:
Logo A Tribuna
Newsletter