Dados mostram a gravidade da pandemia na Baixada Santista

Mortes por novo coronavírus na Baixada superam em quase cinco vezes óbitos por gripe e dengue, somados, nos últimos cinco anos

Por: Rosana Rife & Da Redação &  -  01/06/20  -  20:09
Hospital de campanha em Vicente de Carvalho, Guarujá
Hospital de campanha em Vicente de Carvalho, Guarujá   Foto: Matheus Tagé/AT

O novo coronavírus já matou na Baixada Santista, em apenas 61 dias, quase cinco vezes mais que dengue, gripe comum e H1N1 somadas nos últimos cinco anos e quatro meses. Os números levantados por A Tribuna com as prefeituras da região na última semana traduzem a gravidade da pandemia e derrubam mitos e polêmicas.


De acordo com os dados de oito das nove cidades da Baixada, 23 pessoas morreram devido à dengue e outras 48 por Influenza entre janeiro de 2015 e abril de 2020.


>> Confira dados que mostram a gravidade da doença na região


Apenas Guarujá não enviou os dados à Reportagem. Já o coronavírus custou a vida de mais de 400 moradores da região.


“Os números falam por si sobre a gravidade da covid-19. Não há como comparar dezenas de mortes com os milhares de óbitos ocorridos em tão pouco tempo. Todas as mortes são lamentáveis, mas as situações são diferentes. Ninguém cancelaria as Olimpíadas de Tóquio se não fosse grave”, analisa o infectologista Evaldo Stanislau.


A situação pode ser ainda mais complicada. Isso porque os números podem ainda ser maiores, na avaliação do infectologista e professor universitário Marcos Caseiro, por conta de subnotificações. 


“Em Hubei, onde ocorreram quase todos os registros de coronavírus na China, houve 68 mil casos, o que dá 0,1% da população, com 4.512 óbitos. E houve lockdown por 11 semanas. Não foi um isolamentozinho. Na Baixada Santista, estamos com 0,37% da população com covid-19 e caminhando a um índice de infectados de 1%. Se a gente seguisse pelos mesmos patamares chineses, deveríamos ter o registro de 128 mortos, mas já computamos mais de 400”.


Dura Realidade


Apesar disso, os especialistas ainda se deparam com críticos Brasil afora afirmando que há exageros nas medidas adotadas para tentar reduzir o ritmo de crescimento da covid-19.


“Não é possível achar normal mais de 26 mil pessoas terem morrido no Brasil, ou mesmo que considerem isso um número aceitável. São pessoas que perderam a vida, que deixaram suas famílias. Sinceramente, me assusta um pouco quando as pessoas têm esse tipo de comportamento”, acrescenta Caseiro.


Para Stanislau, seria preciso um choque de realidade a quem ainda duvida do momento dramático vivido no mundo. “Quem quer minimizar a situação, seja por questões políticas, econômicas ou outras, não têm ninguém do convívio com covid-19 ou não foram ao hospital ver o que ocorre. Se fizessem isso, não teriam esse discurso. É inédito o que acontece, extremamente grave”.


Pandemia
Stanislau destaca a necessidade de que as pessoas entendam o que ocorre numa pandemia e como os casos são tratados em toda a rede de atendimento hospitalar para evitar polêmicas que não ajudam em nada a conter os casos da doença.


“Em pandemia, todo caso é suspeito até que se prove o contrário. Muitos acham que você dá um atestado de 14 dias a um caso suspeito de covid-19 porque é bonzinho. Mas esse prazo é por conta do tempo de incubação, interrompendo a cadeia de transmissão e afastando também quem tem contato com aquela pessoa, como marido, mulher e filhos”.


Fechar o cerco contra a transmissão da doença também é defendido como único caminho para vencer a doença pelo infectologista e professor da Unimes Roberto Focaccia.


“Os países com adoção de lockdown ou distanciamento social rigoroso, uso de máscara em massa, testes para detectar casos positivos com posterior isolamento, como Nova Zelândia e Taiwan, tiveram resultados. Aqui, houve uma pseudoquarentena”.


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