Técnica de enfermagem vence a Covid-19 após 17 dias de internação em Cubatão: 'Vou me cobrar menos'

Losanges Maria Gomes Cirqueira, de 59 anos, é funcionária do hospital cubatense e ficou entubada na UTI por 14 dias

Por: Marcelo Luís  -  20/06/20  -  16:24
Depois de ficar internada e entubada em uma UTI, ela teve alta na última quarta-feira (17)
Depois de ficar internada e entubada em uma UTI, ela teve alta na última quarta-feira (17)   Foto: Divulgação/FSFX

Mais uma história de superação marcou a luta contra a Covid-19 na Baixada Santista. Desta vez, a protagonista é uma profissional da área da Saúde, a técnica de enfermagem Losanges Maria Gomes Cirqueira, de 59 anos, funcionária da Fundação São Francisco Xavier, que administra o Hospital de Cubatão, e moradora da Ilha Caraguatá. 


Depois de ficar internada por 17 dias, a maioria desse período entubada, em um leito da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do hospital, ela teve alta na última quarta-feira (17). Losanges sentiu os primeiros sintomas no dia 24 de maio. "No início, era uma dor de cabeça enjoadinha. Fui medicada, mas a dor não passava. Comecei a sentir náuseas, vomitei e, por fim, desconforto respiratório".


Apesar de cumprir todos os procedimentos sanitários e de proteção, a técnica de enfermagem foi diagnosticada com Covid-19. Nos primeiros dias, ficou isolada em casa. Mas, diante da piora de seu quadro de saúde, foi levada para o hospital onde trabalha e acabou sendo internada. No terceiro dia de internação, foi transferida para a UTI e entubada. 


Familiares e amigos comemoram alta de Losanges
Familiares e amigos comemoram alta de Losanges   Foto: Divulgação/FSFX

Em casa, o marido Manoel Messias Brito Cirqueira, de 60 anos, ao lado da filha, da netinha e do genro, vivia a angústia de um futuro incerto. O medo da perda e a espera constante por notícias da esposa viraram uma tortura diária. "Ela sofria, mas aqui em casa nós sofríamos muito também. Uma tensão muito grande. Ficávamos em oração, torcendo para o que o dia seguinte fosse melhor. O pior momento foi quando a médica ligou e disse que o quadro de saúde da minha esposa era muito crítico, pois os rins e os pulmões tinham sido afetados. Continuamos orando e acreditando".


Enquanto isso, na UTI, Losanges, acostumada ao ambiente hospitalar e a lidar com vidas, experimentava uma sensação diferente. Entubada, permanecia em um estado de semi-consciência. "Minhas amigas, no trabalho, me disseram que quando eu ouvia uma voz conhecida, eu ficava agitada e lágrimas escorriam dos meus olhos. Elas também se reuniam para orar por mim. Naqueles momentos, eu sentia um conforto muito grande. Fechava os olhos e via pombas brancas voando pelo quarto. Via muita claridade. Senti a força da oração".


A técnica de enfermagem lembra também que, às vezes, conseguia ouvir a movimentação dos profissionais de Saúde pela UTI. "Ouvia os médicos falarem de outros pacientes e eu achava que estavam falando de mim. Quando a minha situação piorou, pensei que realmente eu não sairia dali".


O quadro de saúde da técnica de enfermagem, que chegou a ser considerado grave, foi melhorando aos poucos. No dia 17, ela finalmente recebeu alta. Ao deixar o hospital, foi homenageada por colegas de trabalho. Após vencer a Covid-19 e o risco da morte, Losanges diz que passou a encarar a vida de uma outra maneira.


"Eu sempre me cobrei muito. Quando começava a fazer alguma coisa, tinha que ser para ontem. No leito do hospital, eu aprendi a ter paciência, a esperar a hora de ser atendida, a hora de o medicamento fazer efeito, por mais que quisesse sair logo dali, eu tinha de esperar. Depois de tudo isso, vou me cobrar menos. O que der pra fazer hoje, vai ser feito. O que não der, faço depois. Não vou mais me cobrar tanto. Agora, só quero agradecer por todos os funcionários do Hospital de Cubatão e da Fundação São Francisco Xavier por todo o carinho que me deram. E, para quem está passando pelo que eu passei, ou que tem um familiar internado, eu digo para que não perca a esperança. Que todos se unam para enviar muita força a quem está doente. É uma doença ingrata, pois o paciente fica isolado, longe de todos e sofre sozinho".


Logo A Tribuna
Newsletter