Sem recursos há oito meses, artistas de Cubatão pedem socorro

Grupos da Cidade podem não resistir à crise econômica causada pela pandemia

Por: Egle Cisterna  -  29/08/20  -  16:21
  Foto: Fotos: Divulgação

Há oito meses sem receber repasses de recursos do poder público, as atividades dos grupos artísticos de Cubatão, formados pela Banda Sinfônica, Cia. de Dança, Banda Marcial e Corpo Coreográfico, Coral Zanzalá, Coral Raízes da Serra e Grupo Rinascita, correm o risco de descontinuar suas atividades. 


“Esse ano era para ser de comemoração, mas já estou chamando de O Jubileu de Ouro Silencioso, pois além de não ter sido renovado o termo de fomento que tínhamos com a Prefeitura, por conta da morosidade da máquina pública e a falta de vontade política, não nos foram repassados recursos que a Câmara teria destinado aos grupos”, afirma o coordenador dos grupos artísticos e fundador da Banda Sinfônica, o maestro Roberto Farias. A Sinfônica é um dos grupos mais antigos da Cidade e completa, em 2020, 50 anos. 


No orçamento municipal de 2020, havia previsão de R$ 900 mil para os Grupos Artísticos, mas o termo de fomento com as entidades que administram os corpos artísticos não foi assinado e parte do dinheiro da Secretaria de Cultura foi contingenciado para ações voltadas ao combate do novo coronavírus.


No final do ano passado, a Câmara de Vereadores devolveu à Prefeitura R$ 8 milhões, referentes à sobra da verba que o Legislativo tem em orçamento para custear as próprias despesas administrativas, contratos e folhas de pagamento. Na época, ficou estabelecido que R$ 1 milhão seria destinado para a manutenção dos grupos artísticos da Cidade. Mas esse dinheiro também não chegou para os artistas. 


O maestro da Banda Marcial, Alexandre Felipe Gomes, lembra que os recursos dos órgãos vêm sendo reduzidos há alguns anos. “Até 2016, nossa verba anual era de R$ 3 milhões e esse valor vem caindo. Somos a maior marca da Cidade. Entendo a situação atual com a pandemia e até entendo o orçamento ser voltado para a doença. Mas queremos, ao menos, o valor que a Câmara destinou para os grupos. Penso que 0,25% do orçamento não seja muito para manter essa tradição da Cidade”, pondera. 


Neste ano, os grupos receberam cerca de R$ 395 mil em emendas impositivas dos vereadores (aquelas que são acrescentadas à Lei Orçamentária Anual, com verba destinada a determinados projetos, obras ou instituições), que devem ser usados entre os meses de outubro e novembro. 


“Com isso, a Banda Marcial consegue retornar às aulas remotas infantis e fazer apenas uma apresentação”, afirma Gomes, que destaca que muitos músicos têm passado dificuldade neste período de isolamento. “Eles vivem da arte. Alguns tocam em outros lugares também, mas a pandemia também restringiu esse trabalho deles”, conta. Hoje, os grupos têm aproximadamente 250 artistas.


Para ajudá-los, os grupos fizeram uma campanha para arrecadar cestas básicas para aqueles que mais precisavam. 


Situação está longe de uma solução


Apesar de reuniões semanais com o poder público, a situação está longe de uma resolução. “Por parte da Prefeitura, haveria o repasse, mas a partir do momento que ele entrou no orçamento, foi utilizado nas ações contra a covid-19. Era um gasto que não esperávamos”, justifica o secretário municipal de Governo, Rodrigo Dias Silva, que está à frente das negociações.


“Estamos buscando achar uma saída, conversando, mas, neste ano, é difícil a gente conseguir (com os recursos municipais). A esperança são os recursos federais e estaduais de repasses em relação aos gastos que tivemos com as ações de covid”, afirma. “Não perco a esperança e continuarmos na busca por esses recursos, mas, neste momento, poucas coisas vão mudar. É difícil transpor a intransigência e omissão do poder público. Os grupos artísticos não estão na lista de prioridades, estão na lista de problemas da Prefeitura”, avalia Farias.


Histórico


Essa não é a primeira vez que os grupos ficam com as atividades paralisadas por falta de dinheiro. Em 2018, houve um intervalo de 11 meses, quando a Justiça determinou inconstitucional a maneira como a Prefeitura disponibilizava a ajuda de custo aos artistas. Para resolver a situação, foram criadas duas associações sociais sem fins lucrativos, a Associação de Amigos de Músicos da Banda Sinfônica de Cubatão (AMBSC) e a Associação de Amigos da Banda Marcial de Cubatão (Asabamc), que reuniram os seis grupos, que firmaram um termo de fomento com a Administração Municipal. 


O acordo vigorou entre agosto e dezembro de 2019 e deveria ser renovado para ter continuidade neste ano.


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