Sanfona e cachorra no hospital: pacientes têm desejos realizados em Cubatão

Unidade hospitalar da Cidade inicia projeto de humanização atendendo pedidos de doentes internados

Por: Maurício Martins  -  11/08/20  -  16:52
Dona Joana matou a saudade de Tchuca, sua cachorrinha
Dona Joana matou a saudade de Tchuca, sua cachorrinha   Foto: Matheus Tagé/AT

A firmeza com a sanfona e fôlego ao soltar a voz não parecia de um doente, internado no Hospital de Cubatão. Manoel Geraldo Pereira, de 83 anos, estava tão feliz em ter seu desejo realizado que ao pegar o instrumento parece ter esquecido dos sete dias de internação por suspeita de Covid-19. De máscara, roupas hospitalares e em uma cadeira de rodas, fez um show para funcionários da unidade.  


Ao final da apresentação, o cubatense se emocionou olhando para a sanfona que em outra época foi sua companheira inseparável. “Muito obrigado por essa felicidade. Que Jesus abençoe o que vocês fizeram por mim. Foi sensacional, se fosse uma sanfona maior, aí vocês teriam som a noite toda”, brincou o idoso.  


Manoel pegou a sanfona e deu um show no hospital
Manoel pegou a sanfona e deu um show no hospital

A sobrinha dele, Elissa Alen, de 34 anos, não conteve as lágrimas. “Acho que já tem mais de 10 anos que ele não toca. Ele já sofreu muito, ver ele tocando me emociona. Proporcionar isso para os pacientes é excepcional, é uma injeção de ânimo”, diz ela.  


Seo Manoel foi um dos 10 pacientes internados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) que tiveram pedidos atendidos ontem pela equipe do hospital dentro do projeto O que importa para você?, que teve início em 2010 nos Estados Unidos. Objetivo é humanizar pacientes e aproximá-los das equipes de saúde. No Brasil, a proposta começou a ser implantada em 2016. Agora foi a vez de Cubatão aderir.  


Outra atendida foi a paciente Joana Darc Gomes, de 59 anos, moradora de São Vicente. Internada com covid-19 no Hospital de Cubatão há oito dias, ela só pensava em uma coisa: rever a sua querida cachorrinha Tchuca, uma shih tzu de oito anos. O encontro foi com longo abraço. “Estava deprimida e fiquei muito feliz. Uma ideia ótima. Eu já estive na UTI e sei que isso vai ajudar na minha recuperação”. 


O marido dela, Carlos Alberto Gomes, de 62 anos, fala do amor que a mulher tem pela mascote da casa. “Ela sempre cuidou da Tchuca e sente muita falta. Tenho certeza que a felicidade dela vai ajudar muito para que fique logo boa”.  


Outros pacientes tiveram desejos mais simples, como comer batata frita, purê de batata e feijão, tomar suco de maracujá, café expresso ou receber a visita do filho. 


Projeto continua 


O Hospital de Cubatão, que tem como gestora a Fundação São Francisco Xavier, pretende dar sequência ao projeto, com todos os desejos que houver possibilidade de atender, em todas as alas, sem estipular um número máximo.  


“É uma ação que tem como propósito criar conversas mais satisfatórias entre o paciente e o profissional da saúde, visando um elo de maior empatia entre eles. É um projeto multidisciplinar, com envolvimento e toda equipe”, explica o enfermeiro Hudson Henrique Lemos da Silva, supervisor da área de internação para adultos do hospital. 


Segundo ele, a conduta é importante para humanizar o atendimento.  “As nossas psicólogas abordaram os pacientes nos leitos, perguntando que realmente importava para eles e conseguimos atender alguns desejos. Ajuda na recuperação mais rápida do paciente”.  


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