Cubatense recebe alta da UTI após vencer o novo coronavírus: 'Pedi a Deus para ver minha filha'

Hudson Ricardo passou 14 dias, sendo sete em coma, internado em uma Unidade de Terapia Intensiva de um hospital em São Paulo

Por: Gabriel Ojea  -  09/04/20  -  18:40

A correria desenfreada dos médicos no trabalho para manter vivo o executivo cubatense Hudson Ricardo é um dos poucos flashes de memória que o paciente tem momentos antes de entrar em coma induzido por conta do novo coronavírus.


Hudson tem 43 anos e nunca teve nenhum problema de saúde que o colocasse no grupo de risco. Segundo o executivo, ele começou a sentir os sintomas da doença quatro dias antes de dar entrada em um hospital de São Paulo. Ele estava trabalhando em sua casa, na Capital, há duas semanas e começou a ter febre e se sentir muito cansado, ao ponto de deitar no chão para poder aliviar a dor em suas costas. Ao apresentar uma tosse seca, ele foi ao hospital acompanhado de um amigo, lá, realizou exames para identificar se tinha contraído H1N1 ou Covid-19.


Ambos os exames deram negativo, porém, Hudson conta que a médica que o atendeu solicitou uma tomografia dos pulmões, que segundo a profissional, estava semelhante a de pessoas que contraíram a doença. A partir disso, ele foi internado.


Na noite seguinte, Hudson chamou a equipe de enfermagem se queixando de falta de ar e foi encaminhado urgentemente para a UTI localizada em outra unidade. “Eu cheguei desfalecendo na UTI, eu não conseguia respirar”, relata o executivo.


A sequência de eventos que se sucederam ainda está confusa para Hudson, que afirma lembrar de lutar pela vida enquanto os médicos o seguravam e pediam para ele respirar, porém, a equipe teve que o intubar e colocá-lo em coma induzido.


“Tenho alguns flashes, o pessoal falava que eu acordava e fechava o olho. Aí eu escutei uma música, um louvor que eu conhecia da igreja, eu cantarolei na minha cabeça e percebi que eu não sentia mais meu corpo, Aí eu me lembrei de Deus e conversei com ele, disse que queria ver minha filha se formar, mas se ele quisesse, poderia me levar ali”, relata Hudson.


Hudson conta que após terminar sua "conversa com Deus", ele abriu os olhos e se deparou com a equipe inteira gritando, batendo palmas e comemorando, mas não conseguia falar. “Só depois eu descobri que estava em coma por sete dias”, conta o executivo. Ele afirma que o diagnóstico atestando que estava com coronavírus ficou pronto apenas no quarto dia de coma.


Com a consciência recobrada, Hudson passou mais sete dias na UTI, se alimentando por sondas e utilizando sondas urinárias para fazer necessidades sem deixar o leito. O executivo conta que neste meio tempo, ele se deparava com o esforço dos médicos. “Você ouve a correria incansável da equipe, a energia deles é 100%”, afirma.


Hudson também se deparou com a morte de pessoas que também estavam internadas em seu andar. “Por dia eu devo ter visto três ou quatro óbitos, um deles de um homem de 47 anos, o resto acima de 80. Quando acontecia [morte], a equipe ficava em luto por 30 segundos e retomava à luta”


O executivo está clinicamente curado da doença e recebeu alta da UTI, mas seguirá no hospital em regime semi-intensivo por 10 dias, para que possa se recuperar apropriadamente. Ele ainda demonstra uma leve dificuldade para respirar e um pouco de tosse e reforça a importância em permanecer em distanciamento social. “Minha recomendação é ficar em casa, não tem outra recomendação, tem gente que morre e nem sabe que foi por causa disso, é uma doença traiçoeira” afirma.


Hudson ficou em coma em UTI de hospital após ser diagnosticado com coronavírus
Hudson ficou em coma em UTI de hospital após ser diagnosticado com coronavírus   Foto: Reprodução

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