Crianças e adolescentes de Santos falam sobre o que mudou na pandemia

Com a ajuda do Sesc Santos, A Tribuna reúne depoimentos sobre os reflexos da pandemia na sociedade

Por: Tatiane Calixto & Da Redação &  -  14/02/21  -  21:26
Encontro virtual foi o primeiro de uma série que visa dar voz a diversos jovens da Baixada Santista
Encontro virtual foi o primeiro de uma série que visa dar voz a diversos jovens da Baixada Santista   Foto: Matheus Tagé

Lockdown, imunidade de rebanho, colapso na saúde. A pandemia trouxe palavras novas e temas difíceis às conversas do dia a dia, mas este não é um assunto só de adultos. Crianças e adolescentes discutem a covid-19, sentem impactos e, assim como os mais velhos, aprendem e se reinventam. Pouco ouvidos, têm muito o que falar – e por que não ensinar? – sobre como enfrentar a situação que abala o mundo.


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Com a ajuda de profissionais multidisciplinares do Sesc Santos, A Tribuna reuniu participantes do projeto Curumim com idades entre 10 e 13 anos. Ao invés de ouvirmos infectologistas, psicólogos, secretários de Saúde e outros adultos, abrimos espaço para crianças e adolescentes contarem como é viver uma pandemia. Este primeiro encontro marca o início da série A Pandemia Sob o Olhar das Crianças e Jovens.


O ínício de tudo


“Quando começou, eu estava na semana de prova. Fiquei feliz porque cancelaram”, confessa, entre risos, Nathália Vitória da Rocha Félix Santos, de 13 anos, moradora do Embaré, em Santos. Ela conta que acreditou que tudo voltaria ao normal em 20 dias. Quase 12 meses depois, Nathália lembra que a tecnologia aproximou quem tinha que se manter distante semana após semana. “Fazia chamada de vídeo com minhas amigas da escola e do Curumim quase todo dia”.


Além do bate-papo, que também incluía atualizações sobre a covid-19, Nathália diz que os encontros virtuais acabaram virando um karaokê e até momentos para inventarem coreografias e dançarem, espantando os males e garantindo a diversão em tempos difíceis.


Se Nathália fortaleceu os laços de amizade nas chamadas de vídeo, Arthur Dias de Oliveira, 11 anos, do Macuco, teve que fazer novos amigos virtualmente. A família dele se mudou em meio às imposições de isolamento social. “Cheguei em Santos, começou a pandemia e não tive a chance de fazer amigos pessoalmente”.


Aulas on-line


Porém, na máquina do tempo que resgatou lembranças e sentimentos dos pequenos, ficou claro que, assim como para qualquer outra pessoa, 2020 não foi fácil e adaptação também foi uma palavra-chave aos mais novos. Mesmo para as gerações Z e Alpha, nascidos a partir de 2000 e que não conheceram o mundo sem internet, a virada de chave para um ensino 100% on-line precisou de tempo.


“No começo foi difícil para me adaptar ao computador”, recorda Ytallo Watezeck Nunes, 10 anos, sobre as aulas virtuais. Até porque, como lembra Taynara Neves, de 11 anos, da Aparecida, foi tudo muito rápido. “Foi bem estranho porque um dia parou tudo e, logo, vieram as aulas no aplicativo, algo bem diferente”.


Depois que eles se acostumaram a ligar a câmera para a aula, acionar o microfone antes de falar e já não achavam tão estranhas as caretas nos vídeos que travavam quando a internet oscilava, descobriram que a tecnologia nem sempre consegue aplacar a saudade de estar junto.


Falta o abraço


“Senti falta de estar pessoalmente com meus amigos e professores”, diz Taynara. Mesmo para Nathália, que se diverte tanto nas chamadas de vídeo com as amigas, os encontros não são completos. “Fica faltando um abraço e um beijo, né?”


Luiza Hibrain Rocha, 11 anos, que mora na Aparecida, está tendo que aprender a lidar com essa saudade, mas nem sempre é fácil. Ela conta que dias atrás foi a uma consulta médica e recebeu uma pulseira para a identificação do atendimento. Uma onda de emoções acabou despertada pelo objeto. “Quando olhei, quase chorei. A pulseira era parecida com a que a gente usa no Sesc. Deu saudade”.


Por outro lado, a pandemia da covid-19 ensinou que, no home office, o tempo de deslocamento dos pais para irem e voltarem do trabalho poderia ser convertido em afeto, o que estreitou laços. “Como meus pais não iam até o trabalho, ficamos mais tempo em casa e deu para assistir filmes e fazer mais coisas juntos”, conta Arthur.


Luiza concorda. Ela conta que conseguiu aproveitar mais com os pais e até dar mais atenção ao cachorrinho da família. Mas a realidade fora de casa aflorou um sentimento de medo e até ansiedade. “Eu tive muito medo, insegurança. Medo de pegar covid ou de alguém da minha família pegar”, conta Beatriz Rodrigues Monteiro, 10 anos, moradora do José Menino.


Raiva


Diante do medo pelos familiares e da gravidade da situação, Beatriz revela que ficou triste e até com raiva quando via que as pessoas não estavam cumprindo as regras de distanciamento e indo às ruas sem máscara. Um sentimento compartilhado pelas outras crianças. “Ficava triste e irritada porque eu só ficava em casa e tinha gente que saía por nada”, diz, em tom de desabafo, Luiza.


E já que são crianças e não de ferro, elas confessam que ficaram entediadas ou até mais chatas nesta quarentena, mas também aprenderam muito. Ytallo garante que, neste período, passou a respeitar muito mais a opinião das pessoas. Beatriz começou a desenhar e isso trouxe alívio aos momentos de tédio.


Já Arthur deixou aflorar as habilidades em edição de vídeos e Taynara aprendeu a fazer brigadeiro de panela. E Nathália, que achava não possuir talento algum para pintura em tela e pano, já tem suas primeiras artes.


No próximo domingo, A Tribuna publicará a história de mais um encontro. Não perca!


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