Covid-19 tem crescimento mais lento em cidades da Baixada Santista

Quarta fase de estudo regional sobre o comportamento do coronavírus no Litoral mostra desaceleração no registro de infectados

Por: Da Redação  -  26/06/20  -  11:37
Segundo o médico Arthur Chioro, do grupo técnico do Epicobs, há problema em cidades como São Vicente
Segundo o médico Arthur Chioro, do grupo técnico do Epicobs, há problema em cidades como São Vicente   Foto: Matheus Tagé/AT

O novo coronavírus ainda está em ascensão na região, mas apresenta atualmente um crescimento mais lento no número de infectados que o registrado semanas atrás. Essas são algumas das conclusões da quarta e última fase do estudo Epidemiologia da Covid-19 na Região Metropolitana da Baixada Santista (Epicobs), realizado por dois meses para mapear o vírus nas nove cidades.


>> Confira mais dados da 4ª fase do Epicobs


O levantamento, capitaneado pela Fundação Parque Tecnológico de Santos e que conta com apoio de universidades da região, aponta que, hoje, 6,6% da população regional possui anticorpos para o coronavírus, o que representa 120,9 mil pessoas. Na semana passada, quando a última fase do Epicobs foi aplicada, havia 18.521 casos confirmados pelas prefeituras, o que representa um caso notificado para outros sete não registrados na Baixada.


Se na primeira fase, realizada no final de abril, o estudo mostrava que havia uma pessoa infectada para cada 69 habitantes da região, na última fase esse número foi uma para 15 – provando o avanço da doença.


A boa notícia é que, apesar do número de casos seguir subindo, os pesquisadores afirmam que vivemos um momento de desaceleração. Entre as fases 2 e 3, o salto no número de amostras positivas na pesquisa foi de 77,2% (de 54 para 93 ocorrências), enquanto entre as fases 3 e 4 houve crescimento em menor intensidade: 69,2% (de 93 para 160 casos).


As cidades para as quais os pesquisadores recomendam atenção especial são Guarujá, São Vicente e Cubatão, que ficaram com as maiores porcentagens de positivo na 4ª fase, com 10,78%, 9,86% e 8,96%, respectivamente. 


“Segue havendo crescimento, ainda que a intensidade tenha caído um pouquinho. Há um problema nas cidades que abriram primeiro e flexibilizaram mais. Por isso, recomenda-se a manutenção do isolamento e o uso de máscara de forma adequada”, afirma o médico Arthur Chioro, que faz parte do grupo técnico do Epicobs.


Outro pesquisador, o infectologista Marcos Caseiro alerta para uma peculiaridade regional. “A velocidade de disseminação aqui é mais acelerada que em estudos semelhantes pelo mundo”.


São Vicente fala em realizar mais testes


O coordenador do estudo Epidemiologia da Covid-19 na Região Metropolitana da Baixada Santista (Epicobs) em São Vicente, Fabio Lopes, discorda que o aumento dos dados na Cidade esteja ligado diretamente à abertura do comércio e das praias.
“É uma variável importante, mas não determinante. Aqui, se testou pouco para a covid-19 e o estudo aponta que precisamos de mais testes e ter mais logística”, justifica Lopes. 


O diretor de Vigilância em Saúde de Guarujá, Marco Antonio Chagas da Conceição, aponta o crescimento dos casos positivos no estudo aos turistas. “Isso acontece por conta da vinda de pessoas de várias cidades para cá, mesmo com barreiras. Essas pessoas trazem o vírus a Guarujá, principalmente para porteiros e caseiros”, explica ele, afirmando que são esses trabalhadores que moram na periferia que fazem o vírus chegar às comunidades.


Ainda de acordo com a Prefeitura de Guarujá, hoje, o Pae Cará é o bairro com mais casos na Cidade. 


A Secretaria de Saúde de Cubatão destacou que a redução da subnotificação aponta para o acerto do município em ampliar a testagem da população. Segundo a pasta, a fase 4 do estudo indica que para cada caso notificado em Cubatão existam outros 6 não notificados. A média do estudo para a região é de 7. No fase anterior, a subnotificação do município estava em 13.


Apesar de uma amostra pequena para a caracterização mais adequada da pandemia em cada município, a Secretaria de Saúde de Cubatão ainda ressaltou o valor regional do estudo, envolvendo todos as cidades da Baixada Santista, com informações úteis para a tomada de decisões.


Avanço


Já em Santos, a Prefeitura aponta, em nota enviada para A Tribuna, que a 4ª fase do Epicobs apresentou a segunda menor variação de amostras positivas para o novo coronavírus entre as nove cidades da Baixada Santista _ de 3,18% da população com anticorpos para 4,15%, “o que demonstra uma tendência na diminuição de novos casos, com achatamento da curva epidemiológica”.


“Mais pessoas expostas ao coronavírus”*


O aumento da presença de anticorpos na população como um todo demonstra que mais pessoas foram expostas ao longo do tempo ao coronavírus. Sabemos que entre 80 e 85% das pessoas terão manifestações entre leves e moderadas ou nem apresentarão sintomas. Ou seja, muitos que testaram positivo nem perceberam que foram expostos ao vírus. 


No caso específico (4ª fase do Epicobs), para cada caso notificado temos sete que passam despercebidos. Outra observação que devemos fazer é que esse tipo de teste mede anticorpos. Há outros mecanismos de defesa que certamente protegem as pessoas, mas que com esse tipo de tecnologia ainda não se detecta. A interpretação desse fenômeno e seu impacto na pandemia ainda estão por serem compreendidos, todavia, de certa forma, é um tipo de imunidade que impede que o vírus contagie mais pessoas e, portanto, acaba protegendo a população de um impacto ainda maior. 


O estudo regional foi muito preciso e correu em paralelo à expansão dos casos. Assim, é preocupante também ver o quanto temos de potencial de crescimento da pandemia, razão pela qual ainda recomendamos cautela, observando o distanciamento social, higienização das mãos e uso correto da máscara.


*Evaldo Stanislau é infectologista, professor da Faculdade de Medicina da Universidade São Judas – Campus Cubatão


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