Cidades da Baixada Santista citam investimentos de R$ 300 mi contra enchentes

Após transtornos causados pelo temporal que atingiu a região, prefeituras alegam ter serviços em andamento

Por: Rosana Rife  -  13/02/20  -  09:52
Com obras na entrada de Santos ainda em andamento, houve alagamentos na última segunda
Com obras na entrada de Santos ainda em andamento, houve alagamentos na última segunda   Foto: Carlos Nogueira/AT

Diante da fúria da natureza, com chuvas que somente em Santos ultrapassaram a marca de 201,8 milímetros (mm) nas últimas 72 horas e causaram destruição em toda a região, muitos moradores cobraram obras e investimentos em infraestrutura. Tudo para evitar alagamentos, enchentes e prejuízos comuns a cada temporal. Já as cidades afirmam que vêm investindo cerca de R$ 300 milhões em obras de drenagem, limpeza de galerias e bocas de lobo, entre outras ações para minimizar o drama de famílias.


Para se ter uma ideia desse volume financeiro, o valor citado pelas administrações municipais representa cerca de 10% da receita orçamentária prevista para Santos em 2020. Mas, frieza dos números à parte, o fato é que os contratempos atingem pessoas como Alessandro Saturnino da Silva, de 22 anos, que vive no Pilões, em Cubatão, viu a casa ser invadida pela chuva na última segunda-feira (10) e, mais um vez, perdeu móveis e roupas dos filhos pequenos.


“É muito triste viver assim. Precisava haver um jeito de isso não ocorrer mais, porque sempre é uma angústia quando chove, para mim e para os outros moradores”.


Apesar dos estragos em Pilões, a Prefeitura de Cubatão informa que desenvolve projetos de drenagem e executa limpezas periódicas em córregos e demais equipamentos do sistema de microdrenagem. Há ainda um projeto, que prevê investimento de R$ 5 milhões, em andamento na Vila Nova e Vila São José, voltado ao sistema de bombeamento, visando evitar enchentes provocadas pela maré alta (veja as ações por cidade abaixo).


Lamentações


Em Santos, a prefeitura alega investir em diversas obras de drenagem e contenção em várias localidades, somando mais de R$ 2 milhões. Até o fim do ano passado, foi feita a limpeza de 15.135 bocas de lobo, postos de visita, caixas de areia e sopés, além de 135.841 metros de galerias.


Mas, apesar desses trabalhos, moradores enfrentaram transtornos em vários pontos do município. A entrada da cidade, por exemplo, foi um dos pontos críticos no começo da semana e que tiveram mais reclamações da população. O local está em obras e a expectativa era de que as tradicionais enchentes não fossem vistas no local.


O motorista Ricardo Pereira, de 58 anos, que o diga. Na segunda-feira, ele encarou a água quase no joelho para chegar ao trabalho. “Vou pegar a carreta na empresa. Mas não dá para chegar com o carro lá. Deixei o veículo com um colega e vim o restante do caminho a pé. Não é a primeira vez que isso acontece aqui”.


Paciência


O gestor do programa Nova Entrada de Santos, Wagner Ramos, diz que os santistas precisam ter paciência, porque os trabalhos ainda não estão prontos, por isso a ocorrência de pontos de alagamento. O segmento drenagem, no projeto, deve custar cerca de R$ 40 milhões.


“A obra não está concluída. Nós temos, ainda, que fazer a conexão da drenagem dos bairros Saboó, Chico de Paula e Vila Haddad, e ainda retirar as águas do Morro Santa Maria, onde também há uma cachoeira, atendendo aos cálculos de drenagem. Tem que fazer verificação dos dutos que chegam ali. Essas obras não são simples e demandam um tempo maior do que erguer um viaduto”.


Ramos acrescenta, ainda, que para a população se livrar de vez das históricas enchentes na entrada da cidade, será necessária ainda a criação de uma estação de bombeamento a ser construída na Avenida Nossa Senhora de Fátima, próximo ao supermercado Assaí.


“Nós temos a solução de drenagem para levar toda essa água da chuva para o mar, desde que a maré não esteja acima de 1,30 metro. Se a maré estiver acima disso e cair uma chuva forte, a água não sai. Ela fica retida”.


Negociações


O andamento dessa etapa depende de negociações entre a Agência de Transporte do Estado de São Paulo (Artesp) e a Ecovias, concessionária que administra o Sistema Anchieta-Imigrantes.


Consultada, a Artesp informou, em nota, que a execução ainda depende de análises técnicas, econômico-financeiras e jurídicas.


“Como o projeto encontra-se em fase de análise, ainda não há informações sobre início de execução, investimentos ou como se dará o reequilíbrio contratual para sua execução”.


Os projetos por município


Bertioga: São investidos mais de R$ 26 milhões em obras de drenagem e pavimentação já licitadas ou iniciadas para atender Maitinga, Rio da Praia, Boracéia, Jardim Vicente de Carvalho e Centro, entre outros bairros. Desde o mês de outubro, o município adota medidas como limpeza dos canais e valas periodicamente.


Cubatão: Executa projetos de drenagem em duas frentes. Uma delas abrange serviços de manutenção (limpezas de galerias, córregos, bocas de lobo) e sistema de microdrenagem. A outra prevê obras em áreas críticas, como no Vale Verde, onde houve limpeza e retificação do canal que cruza o local. Há outro projeto na Vila Nova e na Vila São José, orçado em R$ 5 milhões, prevendo obras de infraestrutura como melhorias no sistema de bombeamento, limpeza e hidrojateamento do canal e substituição de equipamentos. Por fim, a prefeitura destaca obras de drenagem destinadas à Vila Esperança e previstas em projetos de urbanização, com verba federal.


Guarujá: Faz trabalho de prevenção com limpeza de todas as galerias de microdrenagem e da maioria dos canais, o que vem reduzindo o registro de ocorrências graves. Serão feitos, ainda, piscinões com bombeamento para o Estuário no Santo Antônio, porque não há capacidade de vazão no local. A obra será semelhante ao que ocorre na Holanda e deve custar cerca de R$ 82 milhões. No Santa Rosa, serão feitas obras de drenagem, pavimentação e desassoreamento do Rio do Meio. Devem ser gastos cerca de R$ 77 milhões. Será preciso fazer, ainda, a remoção de famílias que estão instaladas nas áreas de saída dos canais.


Itanhaém: Serão construídos quatro canais para amenizar os problemas de alagamento que afetam Belas Artes, Corumbá e Cibratel I e II. Para isso, um canal subterrâneo com extensão de 1 km escoará eventuais excessos de águas pluviais acumuladas no Rio do Poço para desaguar no mar. Há previsão de obras semelhantes nas avenidas Europa (Santa Julia), Tamoios (Tupy) e Brasil (Gaivota), com implantação de seis comportas que impedirão a entrada da água do mar, mesmo em períodos de ressaca. A limpeza de rios e córregos é realizada regularmente. São feitas, também, a limpeza e manutenção das bocas de lobo com hidrojato.


Mongaguá: Realiza obras e serviços de limpeza e drenagem em vários bairros, que incluem construção e ampliação de canais, implantação de linhas de tubos de concreto e de tubulações de águas pluviais. Há, ainda, processo de licitação para obras de limpeza e desassoreamento do Córrego Barranco Alto, em Itaóca e Jussara.


Peruíbe: Informa que são intensificados os trabalhos de limpeza e desassoreamento de valas e canais durante essa época do ano.


Praia Grande: Faz limpeza diária do sistema de drenagem e intensifica, desde outubro, os trabalhos de desobstrução da tubulação de drenagem. Há serviços que buscam evitar o descarte irregular de materiais, como a coleta seletiva, o Rapa Trecho e 18 unidades Ecopontos, além de obras para recuperação e ampliação de sistemas de drenagem no Boqueirão, Ocian, Tupi, Sítio do Campo, entre outros bairros. Somados, os investimentos ultrapassam os R$ 83 milhões.


Santos: Cita a execução de 21 intervenções referentes a obras, drenagem e contenção, em vários bairros da cidade, ultrapassando R$ 2 milhões. Só com a execução de rede de drenagem e construção de muro de arrimo no Morro do Marapé, são R$ 231,1 mil. Há, ainda, obras de condução de águas pluviais e recuperação de muro de contenção. No Morro São Bento, elas estão orçadas em R$ 222,5 mil. A recuperação de drenagem e execução de escadaria hidráulica, no Morro da Penha, também ficou na casa dos R$ 228,6 mil. Até o fim de 2019, foi feita a limpeza de 15.135 bocas de lobo, posto de visitas, caixa de areia e sopé. Foram limpos, ainda, 135.841 metros de galerias. Além disso, estão sendo desassoriados os canais.


São Vicente: Com relação às obras de drenagem, em 2018, a cidade fechou convênio para realizar desassoreamento de quatro canais, totalizando R$ 5 milhões. Já para projetos de drenagem em canais, os investimentos somam R$ 20,2 milhões. A maior parte destinada para a Bacia do Catiapoã. A cidade conta com 28 canais, que recebem serviços básicos de limpeza regularmente. O serviço leva, em média, de 25 a 30 dias em cada leito. Os trabalhos são intensificados quando ocorrem chuvas.


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