Cai número de carteiras de habilitação emitidas aos mais jovens em São Paulo

Diminuição no Estado é de 63,5% em 2 anos

Por: Eduardo Brandão  -  12/05/20  -  01:59
Registros oficiais apontam que a quantidade de novas CNHs entre jovens caiu 80% em todo o País
Registros oficiais apontam que a quantidade de novas CNHs entre jovens caiu 80% em todo o País   Foto: Alex Jumper/Unsplash

Ter uma carta para dirigir - um dos principais sonhos de consumo dos jovens no passado - não é mais prioridade a quem faz 18 anos. O interesse dos mais novos em obter a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) está em queda livre. No Estado, a redução foi de 63,5% em dois anos. Fatores econômicos e mudança cultural são citados como explicação pelos baixos números nacionais da 1ª emissão do documento para pessoas com até 21 anos.


Dados do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) indicam que o registro de CNHs apresenta queda a partir de 2014. Só nos últimos dois anos, a quantidade da primeira carta entre os mais novos despencou 63,5% em São Paulo. Em todo o país, a retração é superior: 80% menor hoje que o volume de emissões de 2017.


Recorte feito por A Tribuna a partir de planilhas do órgão federal indica que, no Estado, foram emitidos 119.844 mil documentos em 2017 a jovens de 18 a 21 anos. Em 2019, foram 43.765 cartas a esse grupo.


O Denatran não faz levantamento por cidades. Contudo, responsáveis por centro de formações de condutores da região afirmam que a procura dos mais jovens para obter a documentação é cada vez menor também na Baixada Santista.


Falta de dinheiro


A barreira financeira é um elemento indicado para explicar o fenômeno. Consulta feita pela Reportagem em 10 centros de formação da região indica que o custo para obter a CNH é de R$ 1.500,00, em média. As cifras podem chegar a R$ 3,5 mil, dependendo do número de aulas, aparelhos utilizados e exames necessários. 


Foi o custo elevado que fez o estudante William Santos da Cruz, 21 anos, adiar os planos de assumir um volante. Morador da Vila Margarida, em São Vicente, ele reconhece que possuir habilitação não consta entre as suas prioridades. 


“Escolhi usar esse dinheiro para gastos em Educação. Além de pagar a CNH, ainda precisaria entrar num financiamento para comprar o carro”. 


Em 2019, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) sancionou mudanças nas regras para obter a CNH. Fim da exigência de simuladores e a redução no número de aulas eram promessas para reduzir em até 20% a despesa com CNH. Contudo, as medidas pouco tiveram impacto no valor cobrado pelas autoescolas.


Registros oficiais apontam que a quantidade de novas CNHs entre jovens caiu 80% em todo país.


Tecnologia e novas formas de locomoção são fatores


A tecnologia e novas formas de se locomover também são citadas para explicar a queda na emissão da CNH entre os mais jovens. O diretor de Habilitação do Departamento Estadual de Trânsito (Detran.SP), Raul Vicentini, indica mudança de paradigma de consumo entre o público que chega agora ao mercado de trabalho e com idade para obter a documentação. 


“É uma nova cultura dos jovens, que não colocam a habilitação como prioridade. Exceto aqueles que exercem atividade remunerada com o carro”. 


Apenas a emissão de CNH na categoria A (moto) apresentou elevação entre 18 a 21 anos. Aplicativos de entrega de alimentos como forma de ingressar ao mercado de trabalho explica essa elevação.


Relação de consumo sofre mudança com passar dos anos


A mudança mais significativa é a relação que a nova geração tem com o consumo. A psicóloga comportamental Ana Paula Durante explica que essa parcela da população se interessa mais em usufruir um serviço que possuir um bem. “É uma geração que resolve tudo na tela do celular. Eles se valem dos benefícios dos veículos sem ter a preocupar em ter um carro”. 


Isso explica a populariza-ção das novas modalidades de transporte individuais entre os mais jovens. Estudo da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) concluiu que 85% dos mais jovens escolhem chamar um veículo por aplicativos para regresso à casa depois de consumir bebida alcoólica. 


Entre os benefícios desse modelo, estão segurança (43%) e baixo nível de preocupação (49%) proporcionada pelos aplicativos. Esse é o caso do programador Micael Cid Oliveira dos Santos, 21 anos. “Não tenho paciência para dirigir, me preocupar em encontrar vaga para deixar o carro. Quando quero ir a algum lugar, peço por aplicativo. É mais rápido, seguro e barato”, resume o morador do Embaré, em Santos. 


Para ele, comprar o primeiro veículo não é prioridade. Além do esforço financeiro na aquisição, o uso do automóvel pesaria no orçamento. “É muito mais barato pegar um Uber ocasionalmente do que pagar gasolina e IPVA”. 


Peso no bolso


Seguro e estacionamento também pesam. “O transporte público e o aumento de pessoas no transporte por aplicativos fazem os jovens preferirem guardar o valor da habilitação e do carro para se locomoverem por esses meios”, finaliza o diretor de Habilitação do Detran.SP, Raul Vicentini.


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