Bispo diocesano pede reflexão sobre cuidado com a vida

A partir desta quarta-feira (26) e até o dia 9 de abril, as comunidades católicas celebram a Quaresma e se preparam para a Páscoa, que representa a Ressurreição de Cristo. 

Em entrevista para A Tribuna, o Bispo Diocesano, D. Tarcísio Scaramussa, explica como esse período convoca à reflexão. E revela que a proposta trazida pela Campanha da Fraternidade 2020, que também tem início nesta quarta (26), é pensar sobre o compromisso que todos têm com a vida. Segundo ele, é preciso ter empatia para entender o outro e agir em favor da paz. Confira.

O que propõe a Campanha da Fraternidade deste ano?

A Campanha da Fraternidade 2020 tem um tema voltado para a vida. Fraternidade e Vida: dom e compromisso. É inspirada na parábola do Bom Samaritano. Jesus conta essa parábola para exemplificar para o mestre da lei que o próximo é aquele que se aproxima. Temos uma pessoa que foi assaltada, machucada e está à beira do caminho. Vários passam indiferentes e justamente o samaritano para. Ele que é considerado um inimigo do judeu e que se fosse considerar esse aspecto, deveria passar direto. Mas é o samaritano quem vai ao encontro. O Evangelho diz que ele viu, sentiu compaixão e cuidou. É uma proposta para esse tempo de Quaresma. Uma proposta de enxergarmos mais a necessidade das pessoas e não sermos indiferentes a suas dores.

Na parábola, alguns viram o sofrimento do homem machucado na estrada, mas só um o socorreu. Teve a ação. No mundo de hoje, em que temos muita informação ainda falta empatia e ações, de fato, para ajudar quem precisa? 

Exato. Porque o cuidar é agir. Nós vivemos um momento muito delicado. Digo até que é uma realidade que vem se tornando doentia por conta da indiferença em relação ao que o outro sente, à incapacidade de ouvir o que o outro está dizendo. Vejo isso quase como uma doença dos nossos tempos. Eu me isolo de tal forma que a dor do outro não me atinge ou, às vezes, essa dor desperta apenas uma curiosidade. Então, eu vou filmar, fotografar, compartilhar nas redes sociais.

Samaritanos e judeus eram inimigos. Hoje vivemos em uma sociedade polarizada... 

Na parábola, eram duas pessoas que eram inimigas. Não se conversavam, se odiavam. É um reflexo da nossa atual situação. Nós estamos divididos em grupos, ideologias, facções. Um querendo destruir o outro, incapazes de ouvir e dialogar. Por que preciso destruir o outro porque ele pensa diferente? Precisamos aprender a ouvir, respeitar e conviver em paz.

E como fazer isso na prática do nosso dia a dia?

Não podemos ficar constantemente incentivando o conflito, a violência e a destruição do outro. Por isso, precisamos unir forças para quebrar esse esquema que é muito arriscado. É o momento de abrirmos os olhos e combatermos isso. Temos que quebrar essa rixa diariamente, assim como o bom samaritano fez, tendo um ato de grandeza.

Como o período da Quaresma pode nos ajudar a refletir e se apropriar desta ideia?

A Quaresma são 40 dias de preparação para a grande festa da Páscoa que é a ressurreição de Cristo. É a festa também que lembra nossa participação na ressurreição pelo nosso batismo, sendo um tempo que de renovação pela graça de Deus. Nos lembra de voltarmos a ser aquela criatura transformada por Deus que pelos pecados, pelo nosso descuido, vamos deixando de lado. Por exemplo, ficamos muito egoístas, muito individualistas, Então a Quaresma nos convida à conversão. E para favorecer isso, a Igreja propõe a intensificação de algumas práticas.

Quais práticas?

Uma delas a oração que nos aproxima da palavra de Deus, nos fortalecendo e nos tornando semelhantes a Ele. O jejum que é um controle, uma autodisciplina e um desprendimento dos nossos desejos e de nós mesmos, nos tornando mais abertos ao outro. E a esmola que é o símbolo da caridade que é ir ao encontro da necessidade do outro.

E aproveitando esse período de reflexão, que mensagem o senhor passaria a todos, independente da religião?

A vida precisa ser melhor cultivada e cuidada. A vida das crianças, dos adolescentes, dos adultos, idosos. A vida precisa ser respeitada. Os trabalhadores, o emprego, habitação com dignidade. Respeito à natureza que é um outro aspecto de cuidado com a vida. Nós vivemos uma realidade de descuido. Toda a sociedade precisa estar comprometida em cultivar uma vida melhor para todos.