Betty Santos: 'Caridade é colocar a necessidade do outro acima de tudo'

Com três filhos, dois deles autistas, e poucos recursos, ela e o marido Ivan mantém o Projeto Navegantes, que ajuda famílias carentes há dez anos

Por: Jean Marcel  -  13/12/20  -  10:29
"Se uma pessoa quer doar eu dou um jeito, pois alguém está precisando. Sou só o instrumento"   Foto: Arquivo Pessoal

Betty Santos, 49 anos, nasceu em Manaus, mas a atração pelo samba a trouxe para São Paulo há 33 anos, trabalhando em shows e apresentações. Foi quando conheceu seu marido, o músico Ivan di Ferraz. Tiveram 3 filhos: Arquimedes que tem 27 anos, Arthur, 19 e Alexander, 12.


Com três filhos, e uma vida apertada, há dez anos, aproximadamente, se cadastraram para receber sacolinhas de Natal de uma igreja em Santos para obter roupas, sapatos e brinquedos para os filhos. E seu espírito de querer ajudar não parou somente neles, ela quis também levar alegria para as outras 23 crianças do bairro.  Ela mora até hoje na praia do Góes, bairro Santa Cruz dos Navegantes, no Guarujá. 


Clique e Assine A Tribuna por R$ 1,90 e ganhe acesso ao Portal, GloboPlay grátis e descontos em lojas, restaurantes e serviços!


Porém, a igreja a chamou para dizer que precisava priorizar crianças de Santos, e ela não poderia levar para tantas crianças, mas, que poderia manter os seus filhos. Ela não achou justo, não aceitou, e foi daí que surgiu a ideia de cuidar para que todas as crianças recebessem as sacolinhas. Foi aí que a vida dela, e de tanta gente começou a mudar.


O ano era 2010. Betty e o marido Ivan passaram a falar com amigos, pediram ajuda, e cumpriram as entregas para os pequenos. Nascia aí o Projeto Navegantes. "Caridade, na minha visão, é quando você coloca a necessidade do outro acima de tudo. Se algúem está precisando, não importa se perto ou longe, ou o que precise, se chegou em mim eu vou ajudar", diz ela. 


"Ao entregar as sacolinhas e ver a reação das pessoas, sabíamos que aquilo não pararia por ali. E não parou. o Ivan deu a ideia do nome, desenhou o logotipo, e partimos adiante. Foi nessa mesma época que descobrimos que éramos pais de outra criança autista. Os dois mais novos, Alexander e Arthur são autistas, e tenho meu netinho, que graças a Deus é uma benção, não tem problema nenhum, o Rian", explica.


Mas isso nunca foi desculpa para que Betty colocasse a dificuldade do outro como menos importante. "Uma das coisas que já fiz e mais me emocionou foi quando estava doente e fui à policlínica. A fila era enorme, e ví lá na frente uma pessoa deitada no chão, estava muito frio e ela estava com pouca roupa e tremia. Não tive dúvida, tirei meu casaco e coloquei por cima dela, era um homem, e vestiu meu casaco na hora, estava realmente muito frio e ele doente, podia morrer. A sensação de levar alívio a alguém é algo que me move", conta emocionada.


Como o projeto não tem sede, funciona em sua pequena casa, que é próxima da encosta, ela e Ivan começaram uma vakinha online, para receber doações e aumentar uma parte do imóvel, e fazer um tipo de galpão que poderá ser usado para muitas coisas.


"A vakinha é para pagar o material e a reforma, não da minha casa, só do local mesmo, pois meu sonho é o projeto ter uma sede, e poder atender ainda mais pessoas", explica ela. "Quero poder receber todo mês as nossas crianças, e ver se estão saudáveis, se estão bem, do que estão precisando, e a sede ajudaria muito", completou.


Betty vai buscar ela mesma as doações, e conta apenas com amigos 
Betty vai buscar ela mesma as doações, e conta apenas com amigos    Foto: Arquivo Pessoal

O Projeto Navegantes não recebe verba da prefeitura, estado ou de instituições. Hoje tem apenas 40 padrinhos que colaboram quando, e como podem. Além das ajudas com roupas, mantimentos e brinquedos para as famílias carentes, o projeto entrega livros escolares, fraldas, e procuram ver a necessidade de cada família.


"É com muito sacrifício que conseguimos alimentos, é um trabalho de muita dedicação, muita luta, mas fazemos questão de fotografar todas as entregas, mostramos tudo que pegamos e onde entregamos, porque sei que é importante as pessoas verem que nossa única intenção é ajudar", explica Betty.



Varal Solidário


No bairro, quem precisar de roupas, pode ir até o varal solidário do Projeto Navegantes, e pegar o que escolher. Não paga nada. "As pessoas não tem como pagar e muitas vezes precisam de roupas para trabalhar, então tudo que recebemos nós lavamos, cuidamos, e colocamos no nosso varal", diz ela.


No 'Varal Solidário' quem precisa de roupas pode pegar sem precisar pagar nada
No 'Varal Solidário' quem precisa de roupas pode pegar sem precisar pagar nada   Foto: Arquivo Pessoal


Doações


O Projeto Navegantes precisa de todo tipo de doações: feijão, arroz, macarrão, óleo, café, bolachas, alimentos não perecíveis, leite, fraldas descartáveis, calçados e roupas. "Nessa época de Natal, queremos levar algo para as famílias mais carentes, então montamos cestas de Natal com um frango congelado, panetone e a sacolinha para cada criança da casa. É um pacote lindo, completo, cheio de amor e solidariedade", conta Betty. 


Para doar, é tudo com ela mesma. "Vou buscar, combino com a pessoa, se uma pessoa quer doar eu dou um jeito e vou porque alguém está precisando, eu sou só o instrumento dessa ajuda", relata. O telefone do projeto é o dela (13) 99174-4512.



Vakinha virtual


As obras da sede para o projeto estão paradas, precisam de doações para seguir adiante. Quem quiser doar pode acessar a Vakinha Virtual e fazer a doação



A criadora do projeto diz ainda que quem doa sempre pode acompanhar para onde as coisas vão: "É nosso orgulho poder só ajudar. Nosso Facebook tem tudo registrado com fotos, o material que compramos com doações em dinheiro tiramos a nota fiscal para comprovação, damos satisfação, porque aqui tudo é muito sério.


Não quero nada para mim, é tudo para as crianças, elas são o nosso bem mais precioso, são o futuro", finaliza.


Logo A Tribuna
Newsletter