Baixada Santista vacinou só 2,39% da população contra a covid-19

Para médicos especialistas em Infectologia e Saúde Pública e ex-ministro da Saúde, "região está vacinando extremamente devagar"

Por: Nathália de Alcantara  -  06/02/21  -  10:50
Cidades da Baixada usam planilhas e listas para seguir o plano de vacinação de forma correta
Cidades da Baixada usam planilhas e listas para seguir o plano de vacinação de forma correta   Foto: Vanessa Rodrigues/AT

A Baixada vacinou só 2,39% da população contra a covid-19 em pouco mais de duas semanas. As primeiras doses chegaram à região no último dia 19 e, desde então, 45.061 pessoas foram imunizadas, entre profissionais de saúde, idosos em asilos, cuidadores desses locais e indígenas.


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Para o médico sanitarista, doutor em Saúde Coletiva, professor universitário e pesquisador Arthur Chioro, “estamos muito aquém do necessário” quando pensamos na velocidade que caminha a imunização". Segundo ele, os profissionais de saúde são cerca de 3% do total da população e sequer conseguimos vacinar todos eles ainda. "Já deveríamos estar vacinando a população mais idosa. Mas isso é um problema não só da região”.


Chioro defende que essa dificuldade está relacionada à falta de disponibilidade da vacina e não só a capacidade de imunização. “Lembro quando, em 2010, no ápice da H1N1, vacinamos 80 milhões de brasileiros em três meses. As vacinas foram compradas de cinco laboratórios diferentes”, diz Chioro, que também atuou como ministro da Saúde.


“A falta de rapidez na vacinação traz consequências humanitárias, sanitárias, econômicas e sociais intensas. O que mais me choca é que, se tivéssemos feito a lição de casa, poderíamos minimizar esses efeitos”, diz ele


Chioro acredita que, no ritmo atual, só no segundo semestre de 2022 chegaremos a 70% dos vacinados - isso levando em conta que gestantes e menores de 18 anos não serão vacinados.


“Gostaria muito estar errado, mas estamos perdendo tempo. Quem é altamente vulnerável não foi vacinado, como os trabalhadores de atividades essenciais, que são os que mais se expõem, como motoristas de ônibus e funcionários de supermercados e farmácias”.


Chioro diz ainda que a situação atual “é um desastre". "A falta de vacinas vai matando mais gente. O Brasil, infelizmente, está ficando para o fim da fila na capacidade de resolver a pandemia de covid-19. Hoje, somos 2,7% da população mundial e mais de 10% do número de casos”.


O doutor em infectologia e professor universitário Marcos Caseiro diz que “estamos vacinamos absurdamente devagar”. “É muito triste, pois nenhum País tem a nossa capacidade de vacinação”.


Para ele, um equívoco foi imunizar profissionais da saúde que não atuam na linha de frente da covid-19. “Diante dessa escassez, deveríamos priorizar quem está morrendo, que são os velhos. Vacilamos lá atrás, na corrida das vacinas, e pagamos por essa irresponsabilidade. Estamos no meio de cepas mutantes e perdendo muito tempo”.


Imunidade


O diretor da Sociedade Paulista de Infectologia, Evaldo Stanislau, alerta que esse percentual da região “não significa nada do ponto de vista de saúde publica”. O médico, que atua no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, explica que a vacina tem a ação individual de proteção contra formas graves e morte por covid-19. E ainda diminui a circulação viral quando mais de 80% da população estiver imuizada.


“As pessoas que não se julguem protegidas, porque estamos bem longe da vacinação efetiva e rápida. Nesse ritmo, sabe lá Deus quando isso acontecerá. Os Estados Unidos, que vacinam um milhão por dia, só terão imunizado gente suficiente no fim do ano”.


Para o infectologista Ricardo Hayden, o Estado tem condições de fazer muto mais e estaria fazendo se tivéssemos recebendo mais vacinas. “Poderíamos vacinar todo o Estado no período de seis a oito meses. Só posso lamentar que isso não acontecerá, pois quanto mais rápido se vacina, se anda na rua com segurança. voltam os empregos, o pagamento de impostos e a roda gira”.


O infectologista do Hospital Albert Einstein, Jacyr Pasternak, pede que sejam mantidos o uso de máscara e álcool em gel, além do distanciamento social. “Vai demorar muito até que essa situação se resolva, mas não tem o que fazer além de tomar todos os cuidados”.


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