Baixada Santista busca estratégias para evitar a evasão escolar na pandemia

Problema foi agravado pelo tempo longe das salas e pelas dificuldades de acesso aos conteúdos

Por: Tatiane Calixto  -  18/04/21  -  17:01
 Em junho de 2020, Santos teve ausência de 10% dos estudantes matriculados na rede, cerca de 2.800
Em junho de 2020, Santos teve ausência de 10% dos estudantes matriculados na rede, cerca de 2.800   Foto: Vanessa Rodrigues/AT

Desde que a pandemia foi decretada, educadores voltaram as atenções para estratégias que pudessem evitar a evasão escolar. Um problema, na verdade, que a Educação carrega antes do novo coronavírus, mas que teve o risco agravado pelo tempo longe das salas e pelas dificuldades de acesso aos conteúdos na esteira da covid-19. Pouco mais de um ano depois, a evasão continua sendo um desafio. Porém, surgiram ações que serão importantes mesmo depois da doença.


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A secretária adjunta de Educação da rede municipal de Santos, Maria Helena Marques, lembra que, logo que a pandemia foi confirmada e as aulas, suspensas, a rede buscou alternativas para atender os alunos. Em maio, já com o calendário reorganizado por meio de aulas remotas, a secretaria passou a monitorar a participação dos estudantes a partir das atividades on-line ou pela retirada e pela entrega do material impresso.


Assim, em junho, a rede municipal de Santos deparou-se com uma ausência de 10% dos estudantes matriculados, o que significava cerca de 2.800 alunos que não estavam acompanhando as atividades. Para se ter uma ideia, Maria Helena lembra que, em 2019, a Cidade encerrou o ano com 0,6% de matrículas encerradas — cerca de 110.


Foi então que a secretaria acionou uma rede de apoio e entrou numa caça ao tesouro, que não deixa de traduzir bem o que os alunos representam.


“Nós intensificamos todas as nossas ações de busca ativa”, afirma Maria Helena. Os orientadores educacionais foram cada vez mais acionados, assim como ferramentas como telefonemas, telegramas e, aproveitado a tecnologia, mensagens em grupos do WhatsApp.


“Com a ajuda do programa Saúde na Escola, atualizamos os endereços e buscamos saber, por exemplo, se esse aluno tinha irmãos em outras escolas e se eles também estavam infrequentes ou se a família mudou e fez matrícula em outro colégio. Também contatamos a rede de garantias de direitos das crianças, como os órgãos de assistência social e o Conselho Tutelar.”


Nesse eixo, o Município conta ainda com o projeto Colibri, uma parceria com o Conselho Municipal da Criança e do Adolescente (CMDCA) que vai aos endereços dos alunos.


“Encerramos 2020 entendendo que, em um ano tão atípico, nosso trabalho foi um sucesso. Tivemos 274 matrículas encerradas, ou 1,39%”. Porém, a batalha não para, pois, neste momento, a rede tem 128 alunos infrequentes que estão no radar da busca ativa.


Medidas municipais


As secretarias municipais de Educação da região intensificaram ações de busca ativa. São Vicente firmou uma parceria com a Unicef. O Município afirma que, desde o início da suspensão das aulas presenciais, identificou que 53 alunos abandonaram a escola e 1.548 não estão comparecendo.


Cubatão tem 15% de ausentes no radar da busca ativa do Município, que adotou medidas como a entrega de kits de alimentação nas escolas para manter o vínculo com a família.


Em Itanhaém, a rede registrou em março 1,94% de evasão ou frequência irregular — 346 estudantes. Agora, tem fortalecido a ação para identificar e trazer esses alunos de volta. Peruíbe registrou o abandono de sete alunos, taxa de 0,08%. De acordo com a Prefeitura, o índice positivo se justifica pelo empenho de gestores e professores na busca ativa e pelo fortalecimento do vínculo com as famílias.


Praia Grande tem o projeto Evasão Escolar e a função do pedagogo comunitário para fortalecer os vínculos entre escola e comunidade. Há visitas domiciliares, encaminhamentos a serviços, encontros e oficinas temáticas para auxiliar as famílias dos alunos nas situações que dificultam a aprendizagem e no combate à evasão escolar. A Reportagem solicitou números de evasão no Estado, mas Secretaria Estadual de Educação não os informou.


Ensino Médio tem situação preocupante


A rede estadual de ensino compreende uma das etapas que é considerada um gargalo na Educação e que acumula os maiores índices de evasão escolar: o Ensino Médio. Durante a pandemia, a situação se agravou.


“Agora, no ensino remoto, eles já chegavam cansados do trabalho e ficava difícil acompanhar a aula on-line. Além disso, muitos tiveram que ajudar na renda, arrumar um bico e parar com a escola. Isso foi muito marcante”, avalia Claudia Elaine Leite, supervisora de ensino da Diretoria de São Vicente. Para enfrentar esse e outros desafios, valeu o esforço de cada escola e professor para aplicar ações nas suas comunidades.


“Com a implantação do Centro de Mídias e uma melhor estrutura, conseguimos perceber melhora, mas ainda havia o problema da evasão. Então, cada escola teve que olhar para sua comunidade e adotar estratégias.


O colégio Martins Fontes, em São Vicente, foi o primeiro na região a organizar as aulas síncronas, que são on-line e ao vivo, indo além dos roteiros de estudo e vídeos gravados.


Em Peruíbe, a escola Padre Vitalino Bernini também teve que criar ações sob medida. Contratou o carro de ovos do bairro, que passou a rodar com uma mensagem sobre horários para retirada de material e atendimento.


“Na escola Maria Thereza da Cunha Pedroso, em São Vicente, um professor recebeu pessoalmente alunos que tinham dificuldade para baixar e usar o aplicativo das aulas.”


Guarujá cria plataforma e busca internet gratuita


A rede municipal de Guarujá foi uma das primeiras a retomar atividades presenciais na região. O recrudescimento da pandemia, porém, fez com que as aulas voltassem exclusivamente para a forma remota.


Enquanto isso, a Cidade estrutura cada vez mais o ensino remoto, procurando, inclusive, alternativas de conexão gratuita para quem mais precisa. Tudo para evitar a evasão.


“O Município foi um dos primeiros a optar pela retomada gradual das aulas presenciais em um momento em que a pandemia permitiu. Mas percebemos que tínhamos que recuar e, agora, só vamos retomar após a aplicação da segunda dose neste grupo de profissionais que está sendo vacinado”, afirma o secretário de Educação do Município, Marcelo Feliciano Nicolau.


Enquanto isso, ele diz que estão sendo investidos R$ 5 milhões, por meio de licitação, em uma plataforma, a Conect Guarujá. A nova ferramenta terá mais opções de conteúdo e a possibilidade de os professores adicionarem atividades.


“Temos entendido que o ensino híbrido veio para ficar e que todo o esforço que fizermos agora ficará quando a pandemia passar e, caso ela se agrave novamente, estaremos preparados”. Mais do que isso, conforme o secretário, investindo no ensino remoto, consegue-se um engajamento maior dos estudantes, o que é visto como fator fundamental para mantê-los na escola e evitar a evasão.


Internet


Para alunos que não têm equipamentos, é possível retirar o material impresso, que será incrementado por plantões de dúvidas — com respeito a protocolos sanitários — a partir da próxima semana.


O secretário explica que há uma preocupação com os alunos que não têm acesso à internet.


“Pensando nisso, terei uma reunião com as principais operadoras de celular. A ideia é que a gente possa fechar um acordo para que os estudantes cadastrados tenham acesso à internet gratuita para acessar o aplicativo de aulas da secretaria”, afirma.


De acordo com Nicolau, um dos principais motivos identificados pela secretaria que levam os alunos à evasão é a falta de conexão à internet.


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