O avanço da pandemia por áreas carentes vai exigir ainda mais do Sistema Único de Saúde (SUS). A maioria dos moradores dessas regiões não possue convênio médico e vai procurar a rede pública para atendimento em caso de infecção.
A tendência é que aumente a demanda por leitos de UTI. A Reportagem mostrou que, aos poucos, o perfil dos infectados no início da epidemia – que era principalmente de moradores de áreas mais ricas, próximas à praia - vai se modificando.
“O impacto é inevitável. Como a base de pessoas aumenta e de 15% a 20% vão precisar de atendimento médico hospitalar, a gente espera que nas próximas semanas o número de solicitações para internação no SUS cresça. Isso é óbvio e a gente vai ter que dar conta de atender”, diz o infectologista Sérgio Feijó.
Para o infectologista Evaldo Stanislau, embora uma parcela de moradores dessas áreas tenha plano de saúde nas empresas em que trabalham, a maior parte é dependente da rede pública. “Isso tem dois efeitos: impacta, porque ocupa o SUS, e não dá vez para que procedimentos eletivos, de controle de doença crônica, voltem à normalidade. Porque o SUS estará sobrecarregado pela covid-19".
Prevenção difícil
O infectologista Leonardo Weissmann ressalta as dificuldades de prevenção nos locais mais pobres. “Geralmente são bastante populosas, muitas vezes sem saneamento básico, situações que dificultam o distanciamento físico e a higienização frequente das mãos, o que favorece a propagação do vírus. A consequência é termos mais pessoas doentes nessas áreas”.
Para Feijó, o poder público poderia tomar fazer ações para tentar minimizar o problema. “Eventualmente fornecer locais adequados para as pessoas higienizarem as mãos e distribuir máscaras talvez sejam ações importantes”.
Stanislau acha que é “ilusão” falar de isolamento social nas comunidades, porque a população é muito vulnerável. “São vítimas da situação. Primeiro porque os programas de repasse de renda para garantir o mínimo de condição para que essas pessoas possam ter adesão ao isolamento social falharam”.
Para o infectologista, porém, incentivar o uso de máscaras e os hábitos de higiene é necessário. “Seria muito importante uma campanha continuada de conscientização e favorecimento ao uso das máscaras. E uma política social que pudesse transferir essas pessoas temporariamente para, por exemplo, hotéis populares. Ou que montassem acampamentos para acolher essas pessoas numa condição de higiene e distanciamento”.