Vítima de um forte temporal que atingiu Santos, no sábado (5), uma família viu seu destino mudar em menos de 24 horas. Em meio à tempestade e ao vento, e com tudo o que tinha em uma carroça, ela teve a cena narrada nas redes sociais, e em pouco tempo, recebeu uma 'chuva' de doações e afeto, e já se prepara para começar uma nova fase de suas vidas.
O desespero começou durante a tarde. Dois meses após morar em uma sala alugada, no bairro Estuário, Vilson Aparecido dos Santos, de 30 anos, e a esposa decidiram sair do local depois de problemas com os locatários. O destino era um barraco que possuem no Sambaiatuba, em São Vicente. E para o transporte, a carroça cedida pelo ferro-velho para o qual faz ‘bicos’.
“Estava super sol, não imaginava que choveria daquele jeito. Ainda paramos no caminho para conseguir algo para comer, mas logo em seguida começou aquela ventania, e nós com as crianças”, conta o autônomo, casado com Karen Rafael, de 20 anos.
Vilson tem dois filhos: Elias Miguel, de 5 meses, e Maria Sophia, de 2 anos. Todos eles, incluindo os dois cachorros da família, acabaram surpreendidos, no meio do caminho, pela forte chuva que atingiu e prejudicou as cidades da Baixada Santista.
“Íamos nos abrigar em um posto na Rua São José com a Avenida Pedro Lessa por conta da chuva, quando a moça acabou nos vendo na carroça. Ela viu que estávamos com as crianças e ajudou a gente”, diz.
A moça em questão era a advogada e professora Patrícia Gorish. Ela voltava para casa com o marido, mudou de rota para evitar o trânsito causado pelo mau tempo e acabou se deparando com a cena.
“Ele estava em zigue-zague, tentando buscar abrigo, os carros passando muito perto, os cachorros quase sendo atropelados e, quando vimos a mãe descendo com os bebês de colo, paramos o carro”, conta. “Foi bastante impactante”.
Vilson pediu para que Patrícia, então, levasse a esposa e as crianças ao posto, de carro, enquanto ele seguia com a carroça ao local. Lá, ficaram até a chuva amenizar, e logo começaram a receber ajuda. Hoje, estão em um quarto, dentro de um estacionamento, cedido sem custos até que a moradia na cidade vizinha fique pronta.
Uma nova chance
A luta de Vilson vem desde cedo. Começou a trabalhar aos 14 anos onde morava, em Guarulhos, capital paulista, e veio para o litoral há pouco mais de dois anos. Teve filhos e construiu família com Karen, hoje a única fonte de renda da casa, já que recebe aposentadoria devido a uma deficiência em uma das mãos.
Sem emprego, e temporariamente sem casa, Vilson agora precisa devolver a carroça que usou ao ferro-velho, para outra pessoa trabalhar. “Eu faço de tudo. Estou parado. Vendo bala em semáforo, olho carro, faço qualquer coisa. Tem um pessoal lá ajudando a gente a ir para o Sambaiatuba”, explica.
O pessoal que Vilson cita, na verdade, são as pessoas que arrecadaram mais de R$ 5 mil por meio de uma ‘vaquinha virtual’. A meta, batida em menos de 24 horas, deverá ser revertida para ajudá-lo a reconstruir a moradia na cidade vizinha e, assim, se instalar com a família.
“Este dinheiro não vai para a mão deles, ele é ‘carimbado’ e só serve para a construção. Irei ao Fórum para conversar com o Juiz da Vara da Infância para prestar contas do dinheiro”, diz a advogada, que desde que lançou a iniciativa, recebeu diversos contatos para ajudar a família.
“Teve de tudo, de uma moça que comprou um fogão para dar para eles até uma senhora, de uma comunidade na entrada de Santos, que se comprometeu a dar R$ 20 por mês. Literalmente dando tudo o que tem”, conta. “Não é à toa que um dos lemas da bandeira de Santos é a caridade”.
Apesar da quantidade enorme de doações, e da gratidão que ele e sua família têm pela mobilização, Vilson só quer voltar para o mercado de trabalho. “Eu só quero é arrumar um emprego e trabalhar. Só assim vou dar uma vida melhor para a minha família”.